Filiação ao Patriota é o reconhecimento antecipado da derrota por Mendanha: partidos nanicos jamais elegeram um governador desde a redemocratização, iniciada com a vitória de Iris em 1982
Não será fácil para o prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha deglutir o impacto negativo da sua filiação ao Patriota, partido nanico que só existe em Goiás dentro de uma pasta debaixo do braço do marqueteiro Jorcelino Braga, que combina essa profissão esdrúxula com a sua vocação para financista – tanto que foi secretário da Fazenda do governador Alcides Rodrigues, iniciado, em 2007, quando se meteu a articulista político e terminou, tanto ele quanto Alcides, engolindo derrotas seguidas para o grupo do senador, na época, Marconi Perillo, que acabou vencendo a eleição de 2010.
Um “mito” ou um “fenômeno”, como Mendanha passou a chamar a si próprio depois da vitória que teve com ampla votação na reeleição em 2020, precisa de espaço para florescer e não cabe na caixinha de sapatos que é o Patriota, mesmo agregando os dotes supostamente mágicos de Braga, hoje o marqueteiro estadual mais bem sucedido da história, com uma coleção impressionante de sucessos – muito embora guarde debaixo do tapete algumas derrotas acachapantes, como, por exemplo, a de Daniel Vilela em 2018, com um programa de televisão ridículo, em que o candidato visitava eleitores pelo Estado afora, como se isso fosse rotina na sua carreira política e terminou com três ou quatro vezes menos votos que Ronaldo Caiado, que liquidou a fatura no 1º turno.
Esse, aliás, é o padrão do marketing autoral de Braga. Em 2020, ele venceu com uma batelada respeitável de prefeitos, todos com o mesmo visual e conteúdo na TV: eleitoras e eleitores apareciam levantando questões que os candidatos respondiam mostrando intimidade e sobretudo espírito aberto à participação popular. Deu certo para Adib Elias, em Catalão; Humberto Machado, em Jataí; Roberto Naves, em Anápolis; Paulo do Vale, em Rio Verde, e para muitos mais, inclusive em praças onde não houve horário gratuito do TRE, como Trindade, onde Marden Jr.; cliente de Braga, foi eleito. Maguito Vilela, em Goiânia, também cliente de Braga, não entra nessa conta porque se tratou de uma eleição atípica, totalmente fora dos padrões, graças a Covid-19.
Sem apoios de expressão mínima, sem partidos e filiado a uma sigla nanica, o marketing televiso é o que restará para Mendanha correr atrás de algum resultado positivo, que seria perder a eleição com uma votação minimamente suficiente para a sua sobrevivência futura. Braga, nesse sentido, daria segurança a ele, muito embora, em eleições estaduais, o currículo do marqueteiro só tenha a apresentar o êxito de Alcides Rodrigues em 2006, com um programa de TV muito ruim, resgatado por um jingle fortíssimo para aquele momento, que só repetia o bordão “Alcides e Marconi, Marconi e Alcides”, buscando absorver o imenso poderio político do governador tucano então concluindo o seu bem sucedido segundo mandato – e essa foi a verdadeira razão para Alcides conquistar o Palácio das Esmeraldas, não qualquer artifício chulé ou pouco criativo, quais sejam as famosas falas quilométricas de Alcides encerradas com um “muito obrigado” que soava como brega, mas de aproveitável mostrava respeito diante das eleitoras e eleitores.
A decisão forçada de se filiar ao Patriota, caso Mendanha não encontre uma alternativa miraculosa até o dia 15, data que ele mesmo marcou para a sua definição partidária, fulmina, na arrancada, um projeto de poder que já não tinha bases concludentes e é confuso quanto às suas preliminares, pela falta de apoios consistentes e agregação de partidos, parecendo mais produto de vontade individual, desejo de retaliação em relação ao governador Ronaldo Caiado, favorito para as urnas de outubro, e, no limite, reflexo de imaturidade pessoal e experiência política.