Vilmar Mariano assumirá a prefeitura de Aparecida e, se não se ajoelhar a Mendanha, pode fazer o que não foi feito até agora: obras, programas sociais permanentes e tolerância democrática
Para lá de simples, porém com histórico de raposice e esperteza política, o vice-prefeito Vilmar Mariano tem um encontro com o destino no início de abril: assumirá a prefeitura de Aparecida, com a renúncia de Gustavo Mendanha para se meter na aventura de disputar o governo do Estado, provavelmente pelo nanico Patriota e sem o apoio de nenhuma liderança de peso expressivo na política de Goiás.
Vilmarzim, como é chamado e lembrando aqui que todo apelido diminutivo envolve falta de respeito e algum desprezo, tem um histórico de desentendimentos com Mendanha. Não indicou ninguém para o atual secretariado, o que o levou, na cerimônia de posse em janeiro de 2021, a se negar a discursar e abandonar o plenário da Câmara não sem mostrar irritação. No final das contas, teve um irmão nomeado para um cargo subalterno na prefeitura, dentro do tradicional processo de cooptação que transformou a folha de pagamentos aparecidense no maior cabide de empregos jamais visto, para a classe política, em todo o Estado.
Tudo bem, isso é olhar para o retrovisor. O fato é que Vilmar Mariano não é bobo e tem se desdobrado para deixar patente que Mendanha pode confiar nele e que, como prefeito, seria um mero preposto do seu antecessor. Claro, não poderia ser diferente. A centímetros de se assenhorear do comando da segunda cidade mais populosa de Goiás, com um orçamento de quase R$ 2 bilhões anuais, somente se fosse doido agiria de maneira diferente. Como não é, tem feito das tripas coração para passar a certeza, por ora, mas sem garantia nenhuma para o futuro, de que o prefeito pode renunciar em paz que não será traído pelo vice.
Ooooops… traição em Aparecida é uma palavra-chave. Mas, não vamos especular, leitoras e leitores. Vilmarzim vai assumir e terá uma chance de ouro para fazer o que, nos últimos cinco anos e três meses de governo, Mendanha não fez. Por exemplo, cumprir as promessas da primeira e da segunda campanhas. Estão lá registradas na Justiça Eleitoral, qualquer um pode consultar, porém o “fenômeno” ou o “mito”, como o prefeito se autodenomina, não asfaltou todos os bairros, não construiu o Hospital do Câncer, não implantou as 6 avenidas do Eixo Leste-Oeste, não acabou com o déficit de vagas nos CMEIs, não abriu um banco de alimentos para socorrer as famílias vulneráveis e não instalou um programa de reemprego para trabalhadores demitidos. Não tornou realidade nem um único item dos seus planos de governo.
Fez muito pouco, enfim, com estudos e pesquisas de instituições de credibilidade nacional como a FIRJAN, o Centro de Liderança Pública da Bovespa e o Instituto Rui Barbosa comprovando com dados da própria prefeitura que Aparecida deu uma grande marcha à ré, sob Mendanha. A economia parou. A nova fábrica do Guaraná Mineiro, de R$ 60 milhões, foi cancelada. Não, não foi por causa da pandemia. Foi porque o prefeito não ofereceu as condições mínimas necessárias, muito antes do advento da Covid-19.
Tudo isso cria um espaço para Vilmar Mariano se afirmar, se não se ajoelhar e for dominado pelo receio de desagradar Mendanha. Afinal, o vice que assumirá será candidato à reeleição em 2024 e pode concluir que, com o atual titular contra ele, teria as chances diminuídas. De um jeito ou de outro, Vilmarzim pode, se tiver coragem, estabelecer um diferencial e tanto. Por exemplo, instituir programas sociais permanentes, que hoje não existem em Aparecida, a despeito da sua imensa margem de famílias vulneráveis, com seus filhos desempregados e todos passando fome. Ou construindo as obras que Mendanha prometeu e não fez, a tal ponto que renunciará sem deixar uma marca para identificar o seu período de administração. Aqui, as seis avenidas do Eixo Leste-Oeste, prometidas, duas iniciadas, mas não concluídas, representam sem dúvidas uma das maiores oportunidades.
Por fim, uma ação que será fácil para o vice convertido em prefeito: mudar o histórico de intolerância de Mendanha com as categorias do funcionalismo aparecidense que têm reivindicações salariais ou trabalhistas. Desde o ano passado, a Guarda Municipal está acampada defronte ao prédio da prefeitura, reivindicando apenas ser recebida pelo prefeito para dialogar sobre os seus direitos. Ele se recusa. Assim como com os servidores da Saúde e outros mais. Mendanha é intransigente. Porém, Vilmarzim, como vice, esteve com os líderes da Guarda Municipal e provocou uma convulsão. Resultado: foi publicamente repreendido pelo secretário de Fazenda André Rosa, chamado em Aparecida de “primeiro-ministro”, de que não responde pela prefeitura, seguindo-se a advertência de que a Guarda Municipal não deveria ouvi-lo por falta de autoridade. Tá: como vice, não. E como prefeito?
Perceberam, amigas e amigos, qual será o desafio do vice Vilmar Mariano ao assumir a titularidade de uma prefeitura de porte monumental como a de Aparecida? Isso mesmo: mesmo se não quiser, porém buscando se afirmar como prefeito, irá desnudar a gestão de Mendanha como incompetente, inepta e improdutiva, se fizer o mínimo, com poucas iniciativas, sem necessidade de muita complicação. Depois do desastre que o “fenômeno” e “mito” foi para a cidade que governou, qualquer um se sairá melhor.