Entrevista de Daniel Vilela, com frase-resumo que arrastou Marconi para o miolo da oposição a Caiado, azedou o evento de ex-prefeitos (que não teve ex-prefeitos) de Mendanha

O presidente estadual do MDB Daniel Vilela (acima, na foto de Wildes Barbosa) deu a entrevista que estava devendo desde que foi ungido para a vaga de vice na chapa da reeleição do governador Ronaldo Caiado: no sábado, ganhou duas páginas em O Popular, que acabaram inesperadamente coincidindo com a data do evento de ex-prefeitos que serviria de pretexto para o lançamento da candidatura de Gustavo Mendanha ao governo do Estado (ou, quem sabe, propositalmente).
A entrevista azedou a festa fabricada de Mendanha, para a qual foram anunciados 300 ex-prefeitos, mas que, na verdade, acabou impulsionada pelo funcionariado comissionado hoje pendurado na generosa folha de pagamento de Aparecida. Não havia ex-prefeitos, no máximo um ou outro, a tal ponto que a organização do encontro sequer teve condições de divulgar uma lista de nomes – oportuna, se real fosse, para encorpar o projeto político do aparecidense que patina atrás de um partido e se arrasta sem conseguir apoiadores de peso.
As declarações de Daniel Vilela a O Popular, deixando claro que o filho e herdeiro de Maguito Vilela aprendeu a se expressar manejando estrategicamente como um mestre as ditas frases-resumo de impacto, tiveram a medida certa para sobreviver ao noticiário efêmero da imprensa. A melhor e mais feliz foi quando fulminou o âmago da articulação, mesmo pouca, por trás da aventura de Mendanha: “Quem quiser a volta de Marconi já tem opção: é só votar no Gustavo”, uma afirmação que, sim, tem sentido e foi cravada para ser irrespondível, tanto que o alvo principal não replicou, deixando a reação a cargo de Marconi, que assim vestiu a carapuça, de seu lado, e recorreu a mais uma das suas esdrúxulas notas oficiais quase sempre caracterizadas por argumentos sem base na realidade e jogos de palavras até criativos, mas sem o necessário conteúdo.
O mote de Daniel Vilela foi tão, mas tão certeiro que se converteu em manchete de 1ª página de O Popular, como que lançada na ogiva de um míssil russo para explodir no evento “fake” dos ex-prefeitos (sem ex-prefeitos), avinagrando o clima já tenso pelas preocupações quanto ao sucesso da reunião. Não foi só, no entanto. O presidente do MDB estava em dia de pontaria inspirada. Com a autoridade de quem tem anos e anos de convivência com Mendanha, que o chamava de “irmão” (aliás, de “irmãozinho”), definiu Mendanha como despreparado em termos de ideias e sem capacidade de gestão, duas linhas de avaliação que o prefeito prestes a renunciar precisa superar para tentar desenvolver a sua campanha – ele, realmente, não é alguém que pensa em profundidade e não tem uma obra de importância para identificar os seus pouco mais de cinco anos como chefe do Executivo aparecidense.
Embora a jornalista que fez a entrevista acredite que a votação recorde de Mendanha na reeleição em 2020 seja suficiente para atestar a sua “capacidade intelectual e de gestão”, um desvirtuamento absoluto sobre a finalidade das urnas no Brasil e em qualquer parte do mundo, Daniel Vilela transformou a cretinice em brecha para infiltrar conceitos: “Vai chegar uma hora em que as pessoas vão querer saber qual é o projeto para Goiás. Vai chegar uma hora em que será exposto, vai ter de mostrar sua condição, a sua capacidade intelectual para apresentar propostas para o Estado. E vai ser também uma oportunidade para apresentar o que fez para Aparecida”, cobrou por antecipação, colocando no debate dois pontos cruciais sobre Mendanha, que o próprio jornal O Popular, em mais de 10 entrevistas extensas com o prefeito, nunca questionou: qual a sua visão de futuro para Goiás e quais as obras que construiu em Aparecida?
No sábado, depois de ler a entrevista de Daniel Vilela, Mendanha foi apreensivo para o evento dos 300 ex-prefeitos, porém sem ex-prefeitos, onde fez um discurso sem graça e sem chamariscos (ausente de frases-resumo de impacto), com o olhar distante, quase de cabeça baixa, perdendo a oportunidade para responder aos obuses metaforicamente atirados no seu peito. Calou-se, mesmo falando muito, e consentiu, sugerindo sem querer que o seu ex-“irmão” ou ex-“irmãozinho” é que está certo.