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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

21 mar

Bem que Mendanha não queria ir: encontro com Bolsonaro foi um fiasco tão esmagador que pode ter enterrado em definitivo a candidatura

Na sexta-feira passada, 18, a coluna Giro, em O Popular, noticiou o encontro que aconteceria no sábado entre alguns deputados estaduais (notem bem, leitora e leitor: nem todos que estiveram lá apoiam Gustavo Mendanha, como é o caso de Paulo Trabalho e Zé Carapô) e os federais Magda Mofatto e Prof. Alcides (esses apoiam) e o presidente Jair Bolsonaro, registrando textualmente que Mendanha havia sido convidado, porém estava hesitando quanto a comparecer.

Naquele momento, até que o prefeito deu uma demonstração de que não seria tão bobo para embarcar numa evidente canoa furada, diante de dois precedentes. Um, a notória afinidade que Bolsonaro tem com outro pré-candidato a governador, o deputado federal Major Vitor Hugo, e, outro, a costumeira desatenção e falta de foco que o presidente tem com seus interlocutores, muitas vezes se limitando em suas conversas a uma enxurrada de piadinhas e brincadeiras. Mendanha resolveu correr o risco, ouviu os conselhos errados, pensou na foto, foi… e quebrou a cara. Posou de bobo, justamente o que não queria.

Foi um dos maiores vexames da história política de Goiás. O prefeito acabou submetido ao constrangimento, que ele mesmo provavelmente já havia previsto, de ouvir de viva voz do presidente, com direito a gravação em vídeo, que ele tem compromisso com o Major Vitor Hugo para a eleição para o governo de Goiás. Antes não tivesse ido. Nem 24 horas depois, Vitor Hugo anunciou que se filia ao PL nesta semana e que é pré-candidato ao Palácio das Esmeraldas, como nome do bolso do colete de Bolsonaro.

É difícil imaginar uma candidatura a governador tão cercada de improvisos e tão desarticulada quanto a de Mendanha. E que acumula no seu percurso tantas derrotas e humilhaçõe s- a principal delas a falta de um partido político minimamente de expressão para a sua filiação. Ele tentou se salvar da tragédia que foi a reunião com Bolsonaro postando, como sempre, algumas mentirinhas nas suas redes sociais. Disse que esteve no Palácio do Planalto com os deputados que o respaldam, o que não é verdade, ou seja, nem todos que estavam lá estão fechados com o seu nome. Depois, tentou oferecer a sua fidelidade futura ao presidente, aludindo a desentendimentos entre Bolsonaro e o governador Ronaldo Caiado que teriam prejudicado Goiás. Isso é absolutamente falso. Beira o ridículo. Ninguém é capaz de apontar um único ponto em que o Estado tenha perdido alguma coisa, qualquer uma, por conta de arestas entre Caiado e o chefe da nação. Ao contrário, o que existe é uma sucessão inequívoca de benefícios, a exemplo da recente adesão ao Regime de Recuperação Fiscal, plenamente aprovada pelo governo federal e já em vigor.

O governador e o presidente podem ter as suas divergências – e essas basicamente se deram por causa do negacionismo de Bolsonaro no enfrentamento à Covid-19 -, mas mantêm um relacionamento respeitoso e administrativamente produtivo. A depender dos acontecimentos futuros, um pode até apoiar o outro nas eleições que se aproximam. Mendanha, mais uma vez, atirou no alvo errado.

O que houve em Brasília, na manhã de sábado, é suficiente para levar o prefeito de Aparecida, se tiver juízo, a desistir de abrir mão de dois anos e nove meses de mandato em troca de uma aventura condenada ao fracasso. Dizem que ele, evangélico do pé rachado, está determinado porque teria recebido uma mensagem direta de Deus informando sobre a sua escolha para governar Goiás nos próximos quatro anos. Deveria ter cuidado. Quem decide sobre assuntos como esse é o eleitor. E Deus, do alto da sua onipotência, não se envolve com política. Que o digam Iris Rezende e Vanderlan Cardoso, outros dois evangélicos que em 2010 e 2014 acreditaram nessa fantasia messiânica e dançaram.