Na política, episódios controversos têm o condão de engrandecer ou desmoralizar seus protagonistas. Em Rio Verde, as vaias elevaram Caiado e diminuíram Major Vitor Hugo
Foi, seguramente, um dos maiores e melhores discursos que Ronaldo Caiado fez em sua longa e alentada vida pública de 36 anos: a fala em Rio Verde, sob vaias da claque montada pelo deputado federal Major Vitor Hugo, mostraram a dimensão e a fibra de um verdadeiro líder, além de mais uma vez deixar plana e clara a coerência de uma biografia que pode ser passada no pente fino sem revelar nenhuma mácula.
Ora, dirá alguma leitora ou leitor, são elogios e ainda por cima exagerados. Não, respondo. São constatações ajustadas à realidade. Nem concordo inteiramente com o que Caiado disse, com as suas posições duras e radicais em relação às esquerdas, embora reconheça que em muitas colocações ele está coberto de razão. Apenas identifico o seu compromisso intransigente com as suas origens ruralistas, em bases racionais e, agora como governador, apresentando-se como um humanista radical – haja vistas ao conteúdo dos seus programas sociais, muito mais eficazes e solidários do que quaisquer outros jamais intentados na história de Goiás. É uma demonstração de sensibilidade que dificilmente se vê em governantes pelo Brasil afora.
Porém, não foi apenas sobre isso que Caiado se manifestou em Rio Verde. Ele puxou o seu currículo de filiação às lutas ideológicas no país e o esfregou na cara do espertinhos de ocasião que buscam se aproveitar da onda direitista, mas nunca correram riscos para se engajar na guerra das ideias. Havia vários ali no palanque. Não é o caso, contudo, do presidente Jair Bolsonaro, que deu exemplo ao ouvir respeitosamente o discurso. O problema dele é outro: refém das suas convicções retrógradas, sua visão e ação, como político, acabam permeadas por uma antropofobia perversa – o presidente não tem empatia emocional e costuma tratar o próximo, como se viu na sua postura genocida na condução da pandemia no país, como descartável. Caiado foi e é o contrário desse tipo de gente.
Vaias – de bolsonaristas ou de esquerdistas – deixaram de ser espontâneas no Brasil, passando a instrumento para calar o debate e produzir factoides. Segundo o presidente da Assembleia Lissauer Vieira, que é de Rio Verde e conhece a região como a palma da mão, o que houve “foi, sim, uma claque do deputado Vitor Hugo, que chegou com a intenção de constranger o governador”. Lissauer ainda acrescentou que “o produtor rural de verdade conhece e respeita a história de Caiado como líder ruralista e seu trabalho para reestruturar Goiás”. Palavras sábias, que resumem o ocorrido. e não precisam de complemento. Nada mais, nada menos do que uma oportunidade que surgiu e o governador abocanhou com maestria e, novamente, com grande coragem pessoal, sem dúvida sua marca mais forte.