Manual que ensina como perder as eleições tem muito leitores aplicados em Goiás, alguns já chegando quase à última página(1): veja o caso do Prof. Alcides
Existe metaforicamente um manual que ensina a perder eleições. Em anos como este 2022, com a população comparecendo às urnas no dia 2 de outubro, esse compêndio tem muitos leitores. Vamos analisar, aqui no blog, um a um, aqueles que têm chamado mais atenção.
O caso do deputado federal Prof. Alcides, um milionário produzido pelas distorções do ensino superior privado no país, é emblemático. Alcides tem estudado com carinho e profundidade o manual, cada vez mais seguindo as regras que contribuirão para a sua derrota na tentativa de conseguir renovar o seu mandato na Câmara Federal.
Em um gesto absolutamente irracional, Prof. Alcides cedeu ao canto de sereia do bolsonarismo, deixou o PP e se filiou ao PL. No PP, teria a concorrência apenas de Adriano do Baldy e de José Nelto, candidatos bem fundamentados em termos de colégios eleitorais. Porém, pelos resultados de 2018, os dois estão atrás do Prof. que não é professor: Alcides, naquela eleição, conquistou 88,4 mil votos, enquanto Adriano ficou com 77,7 e José Nelto com 61,8, o último da lista de eleitos.
Permanecendo no PP, Prof. Alcides, pelos parâmetros de 2018, teria mantido uma posição vantajosa, ainda que o partido só consiga quociente eleitoral para fazer um deputado federal. Seria ele. Mas, dirão as leitoras e leitores, esse é um retrato do passado. Certo, respondo eu. Ocorre se que se trata de concorrentes – Adriano do Baldy e José Nelto – que mantêm uma simetria em relação ao Prof. Alcides, cujas chances de se reeleger seriam maiores se ele, seguindo as dicas do manual que orienta como perder eleições, não tivesse abandonado uma posição confortável para, por convicções pessoais – e, na política, convicções pessoais sempre levam ao desastre, quando vazias -, se colocar em uma situação de risco.
Com apenas dois concorrentes no PP, Prof. Alcides cedeu ao aceno dos bolsonaristas, acreditando que tem importância para essa gente em Brasília, e se transferiu para o PL. Saltou no escuro. Ou no abismo. Na sua nova sigla, em vez de dois competidores, enfrentará… quatro: Gustavo Gayer, Magda Mofatto, Fábio de Souza e Paulo Trabalho. E com risco de ter também o deputado federal Vitor Hugo na arena, caso a candidatura a governador não venha a decolar nas pesquisas e ele busque a segurança da sua recondução à Câmara, para permanecer no jogo. Potencialmente, é provável que o PL vai alcançar um número de votos suficientes para dois deputados, sendo Gayer um deles, pelo seu forte recall em todo o Estado, depois de ter sido o 4º colocado na última eleição para prefeito de Goiânia e se constituir em autêntica e radical liderança do bolsonarismo.
Em 2018, Magda Mofatto empatou com Prof. Alcides, ambos com 88 mil sufrágios. Magda, entre os bolsonaristas, desperta mais paixões que o seu “adversário”, um político morno, sem opiniões, que se limita a trabalhar como despachante de luxo para prefeitos e, em época de eleições, a turbinar com dinheiro as suas eventuais bases. Trata-se de uma estrutura de sustentação arriscada. Mas o tutorial sobre como ser derrotado nas urnas está na cabeceira do Prof. Alcides, mandando que ele se agarre a rolos de fumaça. E pior sabendo-se que ele se filiou a uma campanha fraca para o governo, a de Gustavo Mendanha, que não tem palanque fora de Aparecida e tende a ocupar o último lugar na corrida para o Palácio das Esmeraldas. Mais uma norma do manual sendo obedecida. Para se reeleger, pelo PL, ele precisará de um quase milagre.