Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

13 jun

Viaduto da região Norte, que Iris deixou com apenas 15% das obras realizadas, marca a superação e o início real do mandato de Rogério Cruz

A inauguração, na semana passada, do viaduto batizado com o nome de Iris Rezende no cruzamento da avenida Goiás com a avenida Perimetral Norte, tem uma importância simbólica para a avaliação do desempenho do prefeito de Goiânia Rogério Cruz, a esta altura dos fatos completando um ano e cinco meses de gestão – depois do começo dramático sob o impacto do trauma da morte do prefeito eleito Maguito Vilela, vítima da Covid-19.

O viaduto é um dos melhores exemplos da herança senão de caos, pelo menos de complicações administrativas e uma desordem financeira, deixada por Iris Rezende, apesar de ter encerrado o seu mandato em clima de consagração da sua carreira política. Em Goiás, certas mortes equivalem a um passaporte para a santificação, como ocorreu, também, com Maguito. No caso de Iris, um mandato que não foi bom ou no máximo mediano, acabou alçado à categoria de arrojado e extraordinário, quando, na verdade, não tinha consistência diante de um volume de obras tocadas muitas vezes de improviso e no final deixadas inconclusas, como aconteceu com o viaduto inaugurado por Rogério Cruz, que o encontrou ao assumir com a sua edificação em estágio inicial, não mais que 15% e assim, portanto, pode ser considerado como integralmente construído pelo atual prefeito.

Quem ousar falar de Iris, pelo menos em termos da sua última passagem pelo comando do Paço Municipal, corre o risco de ser execrado, tal a comoção que a sua transferência para a eternidade causou. Mas Rogério Cruz nunca deu um pio sobre o estado em que encontrou a prefeitura, respeitoso com a família. Pode não ter sido uma situação trágica, porém crítica era. E daí para pior. O caixa municipal estava em descontrole, pressionado pelo volume elevado de obras iniciadas para as quais não existiam recursos assegurados, não para todas. Iris, que prometeu entregar tudo até o final do seu mandato, engoliu o compromisso e não falou mais em prazos. Na prática, transformou o governo do seu sucessor, seja quem fosse, em extensão forçada do seu.

A bomba caiu no colo de Rogério Cruz, ponto fora da curva na fiada de prefeitos que a elite política, cultural e econômica de Goiás historicamente elege para a capital (o próprio Iris é um exemplo, Maguito é outro). Negro e sem raiz nas castas privilegiadas que sempre dominaram a gestão de Goiânia, pode-se dizer que ele quebrou essa sequência por também ser de origem popular e humilde. O desafio para afirmação do seu nome foi maior por isso mesmo e continua sendo. Onde seus precursores ganharam tolerância e facilidades, para Rogério Cruz só se colocaram óbices e questionamentos. Com o legado adverso que recebeu ao se sentar na cadeira número um do alto do Park Lozandes, pisou na beira do abismo.

O viaduto da região Norte, para o prefeito, é um emblema superação. Em pouco mais de um ano, ele passou o pé na maioria dos esqueletos de ferro e concreto que vieram junto com o seu diploma de posse – e não foram poucos. De quebra, saneou o erário, pagou em dia e implantou programas sociais permanentes e relevantes, o IPTU Social e a Renda Família, hoje, os dois, com mais de 70 mil beneficiários, uma obrigação em tempos de fome e miséria no país que nem todos os governantes cumprem. Ao lado, em Aparecida, Gustavo Mendanha, que tem a pretensão de se mudar para o Palácio das Esmeraldas, passou cinco anos e três meses como prefeito e não implantou uma única iniciativa, para ajudar os pobres, não em caráter contínuo. Inacredivelmente, não existem programas sociais permanentes, por conta da prefeitura, em Aparecida.

Em Goiânia, os estorvos ficaram para trás. Até aqui, o que houve foi uma preparação. O mandato real de Rogério Cruz começa agora.