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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

29 jul

Braga, o marqueteiro que é maior que o candidato, humilha Mendanha ao impor a sua inimizade com Marconi para atrapalhar a chapa do aparecidense e deixá-lo isolado sem tempo de TV e sem vice

Já escrevi neste blog que considero o ex-prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha um pobre coitado. Algumas leitoras e alguns leitores estranharam a expressão, considerando-a um pouco pesada demais. Mas, infelizmente, é a verdade. Mendanha não tem noção do que é a política em suas manifestações quanto a qualquer dimensão coletiva, padece de vaidade extremada (repetia, logo após ser reeleito para a prefeitura, ser um “mito” ou um “fenômeno”, besteira que parou de recitar depois da sucessão de reveses que enfrentou na tentativa de organizar minimamente a sua postulação ao governo) e não tem preparo ou conhecimento para aspirar a um cargo de tamanha responsabilidade quanto o de chefe do Executivo estadual.

Acrescento mais um ingrediente: o que dizer de um candidato que é menor do que o seu marqueteiro? Como se sabe, Mendanha foi parar no partido que é de propriedade particular do publicitário Jorcelino Braga em Goiás, o Patriota, não por escolha consciente, muito mais como escapatória para o mato sem cachorro em que estava depois de tomar no nariz as portas de todas as grandes legendas no Estado, inclusive o Republicanos, do qual recebeu apoio, mas também não o quis como filiado. Braga aceitou o ex-prefeito e o serviço de marquetagem que veio anexo, com a condição de se manter o ex-governador Marconi Perillo e o PSDB à distância, com o que, encurralado, Mendanha concordou – ocorre que Marconi, pelos meandros da vida, acabou se tornando fundamental para a candidatura de Mendanha.

Há poucos dias, articuladores procuraram Braga para mais uma tentativa de convencimento em relação a uma aproximação entre o ex-prefeito e Marconi. Esse, disseram, não será nem candidato a governador nem a senador, preferindo o caminho seguro da Câmara Federal para recuperação aflita de um mandato para a sua sobrevivência política. Então, nesse cenário, por que não uma aliança entre o Patriota e o PSDB, que indicaria um vice qualificado – como a deputada estadual Lêda Borges, que desistira da busca por um mandato de deputada federal e liberaria o Entorno de Brasília para reforçar os votos do ex-governador – e de quebra acrescentaria cerca de 30 segundos ao tempo de propaganda no rádio e TV?

Essa conversa foi levada pelo ex-deputado estadual Marlúcio Pereira e pelo ex-secretário de Articulação Política da prefeitura aparecidense Tatá Teixeira (que nome!), os tais articuladores (um deles, Marlúcio, sonhando em ser o vice de Mendanha). O primeiro foi da base de Marconi na Assembleia e o segundo quadro tucano em Aparecida por muito tempo, tendo ambos, portanto, diálogo com o ex-governador. O acordo, sem dúvidas, seria favorável a Mendanha e talvez tábua de salvação para viabilizar um desempenho razoável nas urnas do dia 2 de outubro, por agregar alguns prefeitos, além de escalar para o palanque do Patriota, que hoje não existe, alguém que mandou na política de Goiás por 20 anos como um semideus, fora algumas das poucas lideranças que sobreviveram ao cataclisma eleitoral de 2018 e continuam no processo, como o candidato a deputado federal Hélio de Sousa, de Goianésia, uma presença de valor que faria diferença em meio a xepa que Mendanha recolheu da política estadual.

Pois bem: Braga disse não. E não perdeu tempo com explicações. Não e pronto. Marconi, para ele, não é adversário político, senão inimigo mortal. Pigmeus diante da onipotência do marqueteiro, os dois enrolaram o rabo entre as pernas e foram embora para entregar o resultado da missão a Mendanha, o candidato que se apequena diante do encarregado da comunicação da sua campanha e mal tem coragem para discutir assuntos delicados com ele. Dentro da normalidade, o marqueteiro é um operador, um executor da estratégia definida pelo postulante principal. No caso do ex-prefeito, essa lógica se inverteu: é ele quem obedece às ordens do marqueteiro. Braga é mais importante que Mendanha. Se sobrepõe a ele e, se sobrepondo também à política, atrapalha e prejudica a chapa que, como marqueteiro, está encarregado de vender.

Azar do Mendanha. Sim, Mendanha não tem estatura para contestar uma decisão de Braga. Entre eles, a relação é de anão e gigante. De rato e leão. Conforme uma leva de outros motivos, dentre os quais a péssima gestão que fez em Aparecida e o insipiência que o transforma em arremedo de homem público, apenas, esse é mais um fator a confirmar a pecha de indigente intelectual e político que o ex-prefeito carrega como triste figura das eleições deste ano para governador de Goiás. O buraco em que vai se enterrar, enfim, está sendo cavado por ele mesmo.