O outro lado do jogo eleitoral: candidaturas avulsas ao Senado podem ajudar na derrota de Marconi e não facilitar uma eventual vitória sua, como insiste O Popular
Acabei de ler mais uma matéria da série que vem sendo editada por O Popular sobre o quanto as candidaturas avulsas ao Senado seriam prejudiciais para a campanha do governador Ronaldo Caiado. Há meses que os jornalistas do veículo especulam com insistência – torcem, não é exagero dizer – no sentido de que o novo formato criado pela Justiça Eleitoral resultaria em danos para a reeleição de Caiado – que, enquanto isso, foi superando, superando cada etapa e construindo com extrema habilidade um cenário em que restaram três postulantes pela base governista, com o compromisso público de que, da parte dele, governador, todos teriam o mesmo espaço no palanque e a mesma importância dentro na campanha comum.
Agora, é o colunista Caio Salgado, do Giro, que afirma existir junto a Caiado uma pressão para que se priorize um só nome para a vaga senatorial, na prática o oficializando, sob o risco de se ver favorecida a eleição do arqui-inimigo do Palácio das Esmeraldas Marconi Perillo. Afirmo, aqui, leitoras e leitores: é uma informação absolutamente falsa. E ainda que houvesse alguma verdade, esbarraria na correção com que Caiado se comporta também politicamente. O Popular subestima Caiado talvez o tratando como alguém comum, mas ele é muito diferente.
Como se sabe e já se comprovou, o governador não mente e não ilude. Isso ficou claro quando avisou sem meias palavras a um aliado do porte do presidente Lissauer Vieira que não poderia barrar as candidaturas bem sustentadas de Delegado Waldir e de Alexandre Baldy. E repetiu o mesmo para Vilmar Rocha, que ensaiou renovar a proposta de preferência antes tentada por Lissauer.
Uma liderança com uma longa experiência e expertise em matéria de articulação política como Caiado, com o couro tornado grosso de mais de uma dezena de campanhas eleitorais, não teria, como não terá, a menor dificuldade em conduzir a sua reeleição de braços dados com os três pretendentes da base ao Senado, não permitindo que essa multiplicidade de candidaturas traga prejuízos incontornáveis. Tudo vai depender da administração interna corporis dos eventuais conflitos. Para quem joga limpo e com lealdade, como Caiado, conciliar os interesses de Waldir, Baldy e Vilmar será até desintricado, do alto da sua imensa autoridade moral.
De resto, a tese de O Popular – Marconi como beneficiário das candidaturas avulsas na base aliada do Palácio das Esmeraldas – é uma bobagem e não se escora na realidade. Pode ocorrer o contrário: os três candidatos governistas significam três frentes de antagonismo ao ex-governador e não apenas uma. Para quem tem rejeição elevada, caso do tucano, trata-se de uma potencialização dos desgastes e, consequentemente, dos riscos de uma nova derrota. Caiado terá a prerrogativa de dizer ao eleitorado: “Não escolhi apenas uma alternativa, preferi oferecer três ótimas opções para que cada um vote em quem achar melhor”. Os embaraços, para Marconi, se ampliariam. Ele lidera as pesquisas? Lidera. Só que a sua dianteira é incertamente pequena.
Como em toda eleição com muitos candidatos qualificados, com um certo nível de equilíbrio, a vitória virá para quem obtiver qualquer votação a partir de 15 a 20% dos sufrágios, uma meta que não é distante nem para Waldir nem para Baldy e talvez factível para Vilmar Rocha, que só entrou na corrida no último momento e ainda não teve tempo para espraiar a sua postulação e conferir a reação à sua candidatura. E ainda há João Campos correndo por fora, com a sua campanha que foca exclusivamente a plateia evangélica e, portanto, reduz as suas possibilidades em se tratando de um mandato majoritário, dando a ele chances remotas. Ou seja: a forte concorrência muda as expectativas para o desfecho do jogo, uns tirando os votos dos outros. De modo algum há garantia de qualquer favoritismo para Marconi, no sentido oposto ao que sugerem os analistas enviesados de O Popular. O Senado, nesta eleição, é uma das maiores incógnitas da história de Goiás.