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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

31 dez

O defeito de fabricação da faixa simbólica do poder estadual

Às vésperas de assumir pela terceira vez o governo do Estado, em 1º de janeiro de 2011, o governador Marconi Perillo tirou da própria cabeça a ideia de receber no ato solene uma faixa simbólica – com as cores da bandeira de Goiás ou, se quiserem, as do Brasil também, ou seja, verde e amarelo, tal qual sempre se deu com os presidentes da República.

Até então, governador algum havia sido empossado com uma faixa. Às pressas, o então presidente da Assembleia Helder Valin encomendou uma e, na cerimônia, a pendurou no peito do orgulhoso colega e amigo tucano, que foi para a praça Cívica exibindo o novo adereço que a partir dali passaria a identificar visualmente o poder estadual.

A faixa, em 1º de janeiro de 2019, foi transferida para Ronaldo Caiado, depois de ter sido usada por Marconi e por José Eliton. É a mesma de 2011 e está bem conservada, guardada a sete chaves no Palácio das Esmeraldas. Mas com um detalhe pouco notado: a disposição das cores está errada. Quem a confeccionou não foi orientado. Equivocadamente, o amarelo está do lado de fora, enquanto o verde, do lado de dentro. Obrigatoriamente, deveria ser exatamente o contrário.

Observem, leitoras e leitores, nas fotos acima, as faixas do governador goiano e a do presidente da República. A diferença é visível: acompanhando a ordem de disposição da bandeira nacional, a presidencial tem o verde envolvendo totalmente o amarelo, como na bandeira. São três linhas, duas verdes e uma amarela, essa no meio. Já a estadual ostenta apenas duas carreiras, uma verde e uma amarela, sendo esta por fora, ao contrário da hierarquia estabelecida pela bandeira do Brasil. E até mesmo pela bandeira de Goiás, na qual, de cima para baixo, o verde aparece primeiro. Mais: não se diz amarelo-verde e, sim, como todo mundo sabe, verde-amarelo. Quer dizer: primeiro o verde, depois o amarelo. Essa é a disposição natural, assumida inclusive pelos olhos de quem contempla uma foto ou uma imagem qualquer e faz a mirada da esquerda para a direita.

Besteira? Nem tanto. Existe uma “ciência”, a heráldica, especializada nos símbolos e brasões de países, instituições ou o que quer que seja, com regras bem claras, defendidas no Brasil pela Sociedade Nacional de Heráldica, com sede em São Paulo. Caso consultada, ela dirá: a faixa que Caiado conserva em mãos com a posse no segundo mandato, até a do seu sucessor em 2027, carrega um defeito de fabricação. Porém, como já vai para 16 anos de uso, impregnou-se de alguma tradição histórica e isso tem a sua importância. Tornou-se um objeto de memória. É melhor deixar para lá e que a faixa permaneça como está.