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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

21 mar

Agro em Goiás está tão em baixa que sequer conseguiu vaga na viagem para a China

Desde a opção pelos descaminhos do extremismo bolsonarista e até o envolvimento em atos de vandalismo como a invasão do plenário da Assembleia, por ocasião da votação da contribuição fiscal dos produtos primários em Goiás, o agro estadual nunca esteve tão em baixa quanto agora.

Nesta semana, o lance da vez da economia do campo no país é a portentosa viagem do presidente Lula à China, acompanhado por uma comitiva de mais de 200 empresários e lideranças classistas, a maioria especificamente da área agrícola e pecuária. O objetivo qualquer um sabe: abrir novas oportunidades de negócios entre as duas partes.

A China é hoje, disparadamente, o grande parceiro comercial do Brasil. Soja, proteínas, minérios, não há quem compre mais que os chineses. Agora, o melhor: isso vale também para Goiás. De tudo que o Estado vende para o exterior, a metade vai para os asiáticos. No complexo soja, eles levam 60% das exportações goianas. São bilhões de dólares, incluindo cargas generosas de carne bovina e de frango. É muita coisa. O agro é a estrela dessa balança.

Mesmo assim, na comitiva chefiada por Lula, não há viva alma de Goiás. Talvez o mundo goiano dos negócios rurais ainda acredite que a China é um país comunista, empenhado em espalhar a revolução pelo planeta afora. Durante os quatro anos de Jair Bolsonaro, as relações com a China acabaram esfriando, debaixo desse viés ideológico primitivo acatado como Bíblia pelo agro goiano. Mas, com Lula, o poderoso trem das relações comerciais entre os dois país está voltando aos trilhos – com um detalhe: vai disparar, nos próximos meses.

Dentre os 200 empresários a caminho da China nesta semana, o mais próximo de Goiás é um representante da Pif Paf, frigorífico mineiro de aves com unidades em Palmeiras e em Paraúna (ambas à venda, aliás, para ajudar a reduzir o monumental endividamento da empresa). Quer dizer: o agro estadual está fora de uma jogada destinada a abrir ainda mais o maior mercado global à economia brasileira. Nem FIEG nem ADIAL nem FAEG nem suas similares e muito menos empresas de porte aqui sediadas conseguiram lugar na comitiva de Lula. Um tremendo escorregão, que, em última análise, prejudica as goianas e os goianos, enquanto Estados como os dois Mato Grosso garantiram mais de 40% dos lugares na delegação já voando para a China para esperar a chegada de Lula na próxima sexta, 24. Vai ser uma apoteose.