Adesão à base de Caiado dá 15 minutos de estrelato a Mendanha
Adesões são complicadas, em política. Geralmente, dão 15 minutos de estrelato para quem adere antes de inevitavelmente sobrevir o lugar comum, a transformação em móveis e utensílios, que não chamam mais a atenção. Vai-se para uma espécie de limbo e ali se estaciona na espera de uma oportunidade ou de um chamamento. Nem sempre acontece. O exemplo da vez é o ex-prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha.
Vejam só, leitoras e leitores, o tamanho da reviravolta: de principal candidato da oposição a membro entusiasmado da base do antigo adversário, em ralos sete meses. Não se trata de uma charada moral, contudo. Na política, impera o pragmatismo e sobretudo a certeza eterna de um hoje a superar o ontem. Só os mortos e os tolos jamais mudam de opinião, escreveu Shakespeare em uma das suas maravilhosas peças (não sei qual e o Google informa que a frase, na verdade, é de um antigo poeta americano, James Russel).
Mendanha mudou. Aprendeu a lição da derrota de 2022, quando se aventurou em uma eleição com zero estrutura, cavalgando um partido nanico, sozinho, ele e Deus, sem o apoio de qualquer liderança. Como Deus não se envolve com política, não pôde ajudá-lo e o resultado foi uma derrota acompanhada de dívidas de campanha, mais isolamento e completa ausência de perspectivas para o futuro – a não ser uma ilusória candidatura a prefeito de Goiânia, que a legislação eleitoral simplesmente não permite. Sonho vão.
Alguém poderia objetar citando o precedente de Daniel Vilela, principal concorrente do governador Ronaldo Caiado na primeira eleição, em 2018. Esqueçam. São casos absolutamente diferentes. Para começo de conversa, Daniel nunca foi ele mesmo, antes a síntese de um movimento político poderoso, representado pelo seu partido o MDB – presente em todas as disputas majoritárias em Goiás nos últimos 40 anos. Além do mais, carrega o legado de Maguito Vilela, vitimado pela Covid-19 depois de uma vida extraordinária disputando (mais ganhando que perdendo) eleições. Não, não comparem Daniel Vilela com Gustavo Mendanha, a distância entre os dois é abissal. Daniel é coletivo, Mendanha, individual.
Pelo sim, pelo não, o aparecidense passa a enfrentar um desafio monstruoso. Como permanecer em evidência depois de passar a borracha no dito e feito durante o ano mais dramático da sua carreira política, o de 2022? Não será fácil. Ele desdisse agora tudo o que disse, abriu mão de todas as garantias quanto ao seu futuro e até hoje repete a conversa mole de ouvir e seguir os aliados. Nada disso. Mendanha não os tem, a não ser as nulidades provincianas de Aparecida. É ele contra o mundo e mais ninguém. Terá que mostrar inteligência e capacidade de articulação, inclusive no cargo que insistiu, insistiu em jurar que não aceitaria, mas vai assumir. Rapidamente, se depender só dele. E será qualquer um que Caiado quiser. A rendição, como sabido, foi incondicional.