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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

30 maio

A polêmica do aeroporto de cargas: um desperdício de R$ 550 milhões

Um artigo do ex-governador Marconi Perillo em O Popular, defendendo a finalização do aeroporto de cargas de Anápolis, reacendeu o rastilho da polêmica em torno de uma obra com tudo para levar a um desperdício de R$ 550 milhões de reais – R$ 350 milhões dos quais já foram torrados sem qualquer sinal de que algum dia pelo menos um teco-teco pousaria na pista já asfaltada, porém inservível. O que existe hoje é o que aparece na foto acima, leitoras e leitores, que já tem algum tempo.

O aeroporto de Anápolis carrega um pecado original: não tem similares no Brasil. O sistema aéreo nacional optou por investir em terminais de cargas anexos aos aeroportos convencionais, o que facilita a operação em todos os sentidos, desde a manutenção, controle de voos, inspeção fiscal e sanitária e a miríade de providências e equipamentos necessários. Ou seja: despesas menores para as empresas usuárias e custos mais baixos para todos. Não é o que aconteceria caso o de Anápolis estivesse em funcionamento.

Em 2002, como governador, Marconi lançou o projeto, sem data para inauguração. Posteriormente, o tucano, já no seu 3º mandato, prometeu a conclusão para 2014. E agora se foram mais quase 10 anos e nada. O governador Ronaldo Caiado, ao assumir, pediu uma avaliação e se assustou. Os problemas ambientais em torno do aeroporto são sérios e talvez sem solução, mesmo porque faltaram estudos iniciais adequados. A empreiteira vencedora da licitação faliu. Houve situações análogas ao trabalho escravo durante o pouco que foi construído. O solo, arenoso, é impróprio, por não oferecer estabilidade. As erosões são incontroláveis. Os defeitos estruturais, gravíssimos. Haja dinheiro para dar um ponto final a tudo isso.

Um pano de fundo dramático complica ainda mais as coisas: Anápolis está aos poucos deixando de ser o vigoroso polo econômico que já foi. Seu PIB está prestes a ser superado pelo de Aparecida, nova praça queridinha para os grandes investimentos empresariais carreados para Goiás. A maior operadora logística do mundo, a DHL, cliente preferencial de um aeroporto de cargas, fechou suas instalações anapolinas e mudou-se para a nova potência municipal do Estado. Para piorar, um aeroporto privado está sendo implantado em Aparecida, sem um centavo de recursos públicos. O cenário, assim, é o mais desalentador possível para a obra paralisada em Anápolis.

 

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Marconi, no seu artigo, enxergou apenas o antigo ufanismo quanto ao aeroporto de cargas, talvez um dos maiores erros das suas quatro gestões. Ele foi imediatamente rebatido pelo secretário de Governo Lucas Vergílio, que contou a verdadeira história da obra e apontou uma a uma as suas insuperáveis distorções. Dinheiro demais já foi pelo ralo, ali. Um governante como Caiado jamais colocaria mais, a não ser diante de garantias de qualidade na execução do que falta para o projeto, para a sua funcionalidade e para o seu aproveitamento para a economia goiana – algo que parece distante. Fora daí, será difícil.