Como a oposição foi zerada após a vitória de Caiado no ano passado
Vista como um processo dialético entre governo e oposição, a política em todas as partes do mundo tem características de confronto permanente, menos… em Goiás. Aqui, depois da eleição do ano passado, com o governador Ronaldo Caiado reeleito em 1º turno, as coisas esfriaram a perto de zero grau. Nada acontece, a não ser para fortalecer Caiado e enfraquecer os seus críticos ou, ao menos, aqueles que deveriam ter esse papel.
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O que houve? Primeiro, ao buscar o MDB e Daniel Vilela para a sua chapa, ainda em 2021, em um movimento audaciosamente antecipado, Caiado inviabilizou qualquer tentativa de montagem de um projeto eleitoral adversário minimamente viável. Desde quando apeados do poder, em 1998, quando o jovem Marconi Perillo derrotou o todo-poderoso Iris Rezende, os emedebistas não só sobreviveram, exibindo capilaridade pelo Estado afora, como participaram de todas as eleições. Assim, sem eles contra a reeleição em 2022, restaram aventuras inconsequentes como a do ex-prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha ou a do Major Vitor Hugo, ambas condenadas ao fracasso pela falta de consistência política e partidária.
A oposição a Caiado saiu de 2022 em estado de inanição. Rapidamente, Gustavo Mendanha passou a emitir sinais de entusiasmo por uma conciliação e, menos de sete meses após as urnas do ano passado, acertou-se com a base governista. Melhor, como soldado raso, sem exigências, humildemente interessado em conquistar algum espaço para tentar se articular para o futuro. Restou o quê? Os três deputados da turma do barulho na Assembleia – Major Araújo, Paulo César Martins e Delegado Eduardo Prado. Porém, o avanço do pacto de poder dentro do Legislativo, construído pela ascensão habilidosa e irresistível de Bruno Peixoto à presidência do Poder, anulou os possíveis antagonismos daí oriundos. A governabilidade de Caiado recebeu 100% de garantia até o final do seu segundo mandato.
Tá, haveria teoricamente o oposicionismo do PSDB do ex-governador Marconi Perillo? Piada. Não existe. Nem Marconi conseguiu achar um rumo até hoje, depois de duas derrotas acachapantes, em 2018 e 2022, nem seu partido tem algum resíduo de musculatura a mostrar. Na Assembleia, Gustavo Sebba e Dr. José Machado, restos dos fiascos eleitorais dos tucanos em Goiás, trataram de se acomodar à nova realidade e esqueceram Caiado. Não falam nele. Marconi, pragmático, prepara-se para se mudar de mala e cuia para o PSB, atrás de um projeto de futuro em um partido que pode lançar o sucessor de Lula em 2026, ou seja, o ministro da Justiça Flávio Dino.
Todas essas variáveis levaram ao cenário hoje predominante, de supremacia de Caiado e inexistência de contraponto crítico ao governo, como muito bem observou o professor da UFG Luiz Signates. Ninguém fala nada. Ninguém desenvolve qualquer articulação. Até o senador Vanderlan Cardoso, que rompeu com Caiado e apoiou o Major Vitor Hugo para o Palácio das Esmeraldas, passou a balançar a bandeira branca e a repetir quase diariamente que o que passou, passou, e que ele está pronto para uma conciliação com o governador, de olho na disputa pela prefeitura de Goiânia. Em resumo, a oposição está zerada. E sem perspectivas de reação a curto ou médio prazos. O senador Wilder Morais, no PL, já declarou apoio. E o PT se finge de morto, para não atrapalhar as boas relações entre o governador, o União Brasil e o presidente Lula.