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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

25 nov

Forçar debate sobre extinção da PM é equívoco grave e conspira contra a segurança pública

Alguns jornais e jornalistas resolveram forçar, em Goiás, um debate sobre a extinção da Polícia Militar, algo a passar longe de qualquer cogitação no resto do país e, em especial, nos fóruns especializados em segurança pública. Não há ninguém discutindo esse assunto, salvo os bolsões de falso moralismo de classe média que resistem estadualmente. A PM é uma instituição consolidada em todas as Unidades da Federação, indispensável para a paz e a tranquilidade da sociedade, assegurada organicamente por uma legislação qualificada, ainda mais no caso da corporação goiana – talvez, no momento, a mais eficiente e funcional do Brasil.

Por trás, a verdadeira e maliciosa intenção é alongar os efeitos da catastrófica “reflexão pessoal” do desembargador Adriano Roberto Linhares Camargo, em meio a um julgamento, propondo o fim da PM, fazendo acusações sem provas aos seus integrantes e revelando que, para substituí-la, não tinha a menor noção sobre qual seria o sistema de investigação e repressão apropriado. Um delírio, do qual o próprio magistrado recuou na sequência, tal como Pedro, por três vezes, admitindo “não ter andado bem ao fazer o comentário”, jurando nutrir “o maior respeito pelos dignos componentes da PM” e, por fim, retratando-se de forma “cabal” e se desculpando pelas infelizes declarações.

 

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A reconsideração de Sua Excelência deveria ter encerrado o episódio. Mas há setores retrógrados da imprensa onde floresce e é alimentado um forte preconceito pelos policiais militares, sempre apresentados como semelhantes aos criminosos que combatem. Aproveitaram a deixa para dançar e sapatear sobre uma tropa de profissionais policiais com mais de 100 anos de tradição nos serviços prestados à população sob riscos para a vida dos seus quadros. Dançar quando exploraram até a última gota de sensacionalismo a fala do desembargador Adriano, na tentativa de atrair a cobertura das manchetes nacionais – que não veio. Sapatear ao impingir agora às leitoras e aos leitores uma controvérsia artificial sobre a desmilitarização das polícias, admissível talvez se houvessem propostas sobre uma nova estrutura para ocupar o lugar. Não há. O esforço é pela desconstrução da PM.

Toda troca inteligente de ideias constitui-se, qualquer o tema, em um debate aceitável intelectualmente falando, mesmo passando longe da realidade ou contrariando o senso comum. Especular sobre a Polícia Militar só teria sentido se colocadas alternativas na mesa, até imperfeitas. Seria válido. Mas a ausência absoluta de um projeto para preencher a monumental lacuna aberta a se abrir com a eliminação de um sistema de segurança vital para as cidadãs e os cidadãos, aí, não. É inaceitável. E denuncia uma maquinação de perversa fé para induzir a um estado de espírito contra uma força que bem ou mal cumpre as suas finalidades. Para o bem, aplausos. Para o mal, que os responsáveis paguem pelos erros e desvios, sem comprometer a totalidade do conjunto a que pertencem.