Documentos e argumentos para Marconi contestar a obra do CORA vazaram do próprio TCE
Diante das últimas declarações do governador Ronaldo Caiado – duríssimas – sobre a investida do ex-governador Marconi Perillo contra a obra do Hospital do Câncer, o CORA, não há dúvida que vem aí um acirramento com potencial para prejudicar as relações entre o Executivo estadual e o Tribunal de Contas do Estado. Provocado por Marconi, o TCE abriu um procedimento investigatório sobre o processo legal diferenciado a que se recorreu para a edificação do hospital – destinado a socorrer pacientes oncológicos sem recursos, crianças principalmente, hoje sem amparo avançado na rede de atendimento médico mantida pelo Poder Público em Goiás.
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No entorno de Caiado, a desconfiança é que Marconi foi “acionado” por gente de dentro do TCE, daí as críticas que o governador fez à construção do palácio onde a Corte está instalada, segundo ele “suntuosa” e edificada às custas do “metro quadrado mais caro da história de Goiás”. Foi uma resposta e um recado. Mais uma vez, Caiado comprovou que é mesmo um homem sem medo e que partir para o confronto, para ele, é ação rotineira do seu dia a dia, pessoal e político. Em tudo isso, de qualquer forma, salta a inconveniência da tentativa de obstaculizar um projeto que foi aprovado pela Assembleia Legislativa (e por isso o presidente Bruno Peixoto foi até mais incisivo que Caiado ao questionar o TCE) e incorpora um excepcional componente humano no caso das meninas e meninos infelizmente candidatas a uma terapêutica gratuita para uma enfermidade para lá de gravíssima.
Caiado corajosamente delimitou o seu campo de debate ao misturar o tribunal com a oposição de Marconi. Ele enxergou nos dois uma só iniciativa contra o CORA, recusando-se a separar a denúncia apresentada pelo ex-governador da auditoria aberta pelo órgão de fiscalização de contas. Lembrai-vos, leitoras e leitores: dos sete conselheiros, seis foram nomeados nos governos do PSDB. (na verdade, cinco diretamente por Marconi e um por Alcides Rodrigues, mas sob influência da maioria marconista na Assembleia). Não que isso seja decisivo para as posições de cada dos julgadores do TCE, quanto aos quais é preciso crer em um superior espírito ético e moral na consecução das suas responsabilidades, claro. Porém, se a polêmica tem conteúdo político, aí as coisas mudam de figura e é provavelmente por tudo isso que Caiado defendeu o CORA distribuindo ironias pesadas para todos os que atiraram pedras e até recorrendo ao termo “canalhice”.
A rigor, não é preciso ser técnico em contabilidade governamental para se saber que o caminho escolhido por Caiado para levantar o que ficará para a História como a maior realização da sua gestão é correto e consequente com a urgência requerida e, por que não?, com a grandeza do empreendimento. Ademais, cercado de medidas fiscalizatórias. E muito, mas muito mais apropriado, quando se verifica que serão crianças as maiores beneficiárias. O aval da Assembleia fala alto. E a acusação de Marconi de que um “compadre” de Caiado ganhou de presente o contrato é ridícula. Como o governador é médico e o presidente da Fundação Pio XII também, seria mais do que aceitável uma conexão de amizade entre ambos. Aliás, quem se lembra de uma calúnia que foi disparada contra Caiado antigamente, a de que seria sócio de um hospital em Barretos? Sim, justamente o Hospital de Amor, hoje referência no tratamento de câncer no Brasil, último refúgio das famílias desesperadas com seus pacientes. Era fake news e mesmo assim foi longe.
O TCE passou a pisar em ovos com a representação protocolada por Marconi. Equilibra-se sobre um fio de arame fino. Os conselheiros não ignoram a impossibilidade de isolar o sistema escolhido para transformar o CORA em realidade das finalidades humanitárias buscadas. Não vai colar dizer que a obra é meritória, mas a sua viabilização, talvez, não, como Marconi já fez sem sucesso. Suspender, atrasar, atrapalhar, enfim, a construção do CORA seria um ato praticado contra a sociedade e Caiado não hesitará um segundo em apontar para os culpados por deixar crianças vulneráveis sem uma chance de sobrevivência (o hospital já está com 40% do seu cronograma cumprido). O erro de Marconi não deveria ser compartilhado por uma instituição cujo presidente, Edson Ferrari, ganhou há pouco as manchetes dos jornais ao defender o que chamou de “primeira infância”, prejudicada pela falta de cobertura vacinal e pela carência absoluta de vagas nas creches (CMEIs) municipais. Ferrari poderia ter acrescentado: e também sem receber atenção qualificada quando adoecidas pelo câncer, que o CORA vai oferecer.