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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

02 jan

Isolamento tornou inviável a candidatura de Vanderlan

Produto de suas próprias ações e da imposição de interesses pessoais sobre o processo político, a candidatura do senador Vanderlan Cardoso a prefeito de Goiânia tornou-se absolutamente inviável. Deixou de reunir o que se chama de condições mínimas para acontecer: Vanderlan não tem sequer o apoio unânime do seu próprio partido, o PSD, quanto menos de outras legendas; não agrega lideranças de peso para avalizar o seu nome; perdeu a identificação com o eleitorado de direita ao se unir ao bloco de sustentação do presidente Lula no Congresso e passar a ser considerado como um “traidor” pelo bolsonarismo; e, de resto, teve o seu perfil de “gerente” diluído ao assumir o mandato senatorial e praticamente desaparecer de Goiás, arrastado pelo seu trabalho interno na mais alta Câmara Legislativa do país.

O recall construído pelas quatro eleições majoritárias que Vanderlan disputou e perdeu, duas para o governo do Estado e duas para o Paço Municipal, praticamente desapareceu, o que é atestado pela sua estagnação ou queda nas pesquisas, enquanto possíveis adversários como a deputada federal Adriana Accorsi e o presidente da Assembleia Bruno Peixoto crescem. O senador conta com apenas oito meses, daqui até a data das urnas, para tentar a recomposição das perdas a cada dia mais graves para o seu nome como hipótese para a sucessão do prefeito Rogério Cruz. O prazo, ao que tudo indica, é insuficiente. Nem ao menos se nota a presença de um plano de ação.

Uma prova de que Vanderlan está perdido quanto ao seu possível projeto eleitoral na capital são os sucessivos anúncios de licenças para dar um tempo a Brasília e mergulhar em uma agenda capaz de criar alguma aproximação com as goianienses e os goianienses. Ele passou 2023 marcando datas para esse movimento, mas sempre acabou adiando. Além disso, mesmo à distância, nunca manteve contato ou desenvolveu alguma conversa com qualquer sigla ou liderança diretamente ligada ao pleito municipal em Goiânia. Se for candidato, enfrentando esse cenário adverso, mesmo levemente minimizado pela razoável colocação ainda obtida nas pesquisas, dependerá de um milagre. Só que esse fenômeno, na política, costuma ser raríssimo.

 

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As explicações para a difícil situação de Vanderlan decorrem do seu próprio temperamento como empresário bem-sucedido e do fato de ser um estranho no ninho das forças comprometidas com a luta pelo poder em Goiás, em todos os seus níveis. Ele não tem conexões com vereadores, prefeitos ou deputados estaduais e federais. No PSD, limita-se a distribuir comunicados aos filiados sobre as suas decisões. Nunca consultou ninguém, menos ainda convidou para um café, um almoço ou uma reunião qualquer. Faz como dirige as suas empresas, de cima para baixo. Uma estrela solitária, bafejada pela sorte por se postar no lugar certo na eleição de 2018 e daí ver cair no colo o precioso mandato de senador da República. Só é leal e fiel a si mesmo – característica que leva inevitavelmente a classe política a se afastar sem resposta para uma pergunta incômoda: “Por que eu trabalharia para eleger Vanderlan se ele, vencendo, será prefeito em seu exclusivo benefício?”.

Há especulações em curso até mesmo sobre a desistência de Vanderlan, o que provavelmente não tem fundamento porque o senador tocou todas as suas aventuras eleitorais, no passado, mais ou menos da mesma forma e só teve ajuda eventual – pouca – em razão de conveniências de última hora e, portanto, sem retorno em termos de votos. Ele tende a concorrer porque é assim que enxerga uma candidatura, ou seja, como uma aposta individual e jamais como uma proposta de grupo. Dessa vez, porém, diante de um quadro 100% desfavorável. Nada do que o impulsionou, lá atrás, parece se repetir em 2024.