Por que Gomide lidera as pesquisas, mas não tem expectativa de vitória
O ex-prefeito, atual deputado estadual e petista (atenção: esse “detalhe” é da máxima importância) Antônio Gomide desponta com folga em todas as pesquisas para a eleição para a prefeitura de Anápolis. Melhor ainda: seu índice está acima da soma alcançada pelos adversários, em qualquer o cenário. Na média, Gomide aparece como dono absoluto de 30 a 40% dos votos das anapolinas e dos anapolinos, pelo menos por ora. Seria, exagerando, o caso de mandar confeccionar logo o terno de posse. Mas, olho vivo… não é bem assim.
Embora campeão das pesquisas, Gomide estranhamente não tem expectativa de vitória. Parece um absurdo. Só que não é. Anápolis tem um eleitorado radicalmente conservador. Em 2022, Jair Bolsonaro massacrou Lula nos boletins de apuração do TRE, com mais de 70% dos sufrágios. Dois anos antes, o atual prefeito Roberto Naves partiu para a reeleição com um percentual de pouco mais de 20% nas pesquisas, enfrentando justamente Gomide, esse com mais de 50% nos mesmos levantamentos. Encerrada a disputa, Naves (conhecido como “o homem que não ri”) sagrou-se vencedor, com uma campanha 100% baseada no antipetismo e na promoção do ideário de direita, assuntos em tese estranhos em se tratando de um pleito municipal.
Se essa estória vai se repetir, ainda é cedo para saber. A rejeição à esquerda em Anápolis é poderosa. A cidade tornou-se um centro regressista. À exceção de Gomide, quase não há lideranças identificadas com o PT e os demais partidos do seu arco ideológico. Já os bolsonaristas tomaram conta. São maioria, inclusive com vários nomes viáveis para disputar a prefeitura em 2024. Na lista, a propósito, aparece em destaque até o mais fiel dos seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro, o ex-deputado federal e candidato derrotado ao governo de Goiás Major Vitor Hugo. Ele passou a assediar o eleitorado anapolino depois da transferência da sua mulher, juíza de Direito, para a outrora “Manchester” goiana. Rapidamente, conquistou o 2º lugar nas pesquisas.
O horizonte eleitoral, para Gomide, é preocupante. Primeiro, pelo isolamento. Segundo, pelo extremismo político já visto nos votos de 2020 em Anápolis, com tendência a ressurgir nas urnas deste ano. E, por último, pelas dificuldades para que o candidato petista desenvolva uma agenda de pré-campanha. Gomide não tem aonde ir. Apesar de postulante declarado à sucessão de Roberto Naves, quase não circula. Quando tenta, depara-se com portas fechadas. No Natal passado, distribuiu 100 mil cartões de boas-festas, alguns pessoalmente, de casa em casa nos bairros. E justificou explicando se tratar de uma estratégia para minimizar a sua rejeição. Parece pouco.
E, sim, é no quesito rejeição que a porca torce o rabo para o ex-prefeito. Os mesmos índices conquistados como o nome de maior aceitação, por ora, se replicam nas citações quando a pergunta das pesquisas é a temida “Em quem o sr. ou a sra. não votaria de jeito nenhum”. Gomide é o mais lembrado. Por dois mandatos, administrou Anápolis, entre 2009 e 2016. Fez uma boa gestão e cravou números para lá de positivos quanto a sua avaliação. Porém, veio o antipetismo como um tsunami e tragou essa boa reputação, como se vê. Em 2020, depois de começar a campanha com mais pontos do que os de hoje, terminou derrotado por Naves no 2º turno, por uma diferença expressiva. Esse precedente diz tudo. E instala nuvens escuras no horizonte do parlamentar petista.