Apoio de Caiado é valioso, mas precisa do ponto exato de equilíbrio
O apoio do governador Ronaldo Caiado a um candidato a prefeito de Goiânia é decisivo para o resultado das urnas de outubro próximo? Não resta a menor dúvida: é. Ninguém contesta a força eleitoral de Caiado na capital, onde teve 44% dos votos para a reeleição em 2022, um recorde na história recente de Goiás, onde, no geral, o eleitorado costuma ser hostil diante dos governantes da hora. Mais: pesquisas comprovam que ele tem uma taxa de aprovação entre as goianienses e os goianienses situada entre 77 e 83%, marca espetacular jamais alcançada pelos seus antecessores.
Tudo isso, mais a assertividade natural do governador, atraindo para a sua imagem as características de seriedade e responsabilidade que só o levariam a avalizar um postulante ao Paço Municipal se enxergasse nele predicados pessoais e de capacidade gerencial, confere a Caiado um papel relevante no pleito municipal e cria em torno da sua definição sobre quem vai respaldar uma expectativa enorme. Hoje, tudo aponta para um anúncio certo nas próximas semanas pelo Palácio das Esmeraldas, oficializando a escolha do empresário e ex-prefeito de Trindade Jânio Darrot – ainda um desconhecido para a maioria dos moradores de Goiânia.
Mais uma pergunta: vai bastar Caiado colocar a mão no ombro de Darrot e em decorrência haverá um crescimento da candidatura, vitória no 1º turno e em seguida a consagração no 2º? Não. Ou pelo menos não automaticamente. Há fatores a considerar no meio social e político do maior colégio eleitoral do Estado, como a questão da influência do bolsonarismo e da polarização ideológica, por exemplo, a caminho de manter grande saliência nas maiores cidades brasileiras no pleito municipal deste ano. No entanto, nem Caiado nem Darrot têm qualquer afinidade com a esquerda e não dariam motivos para qualquer rejeição ou dificuldade quanto a essa base de votos. A questão é mesmo de transferência de prestígio.
E aí entra-se em um terreno sensível e delicado. Nem Jânio pode assumir um perfil de poste, ou seja, uma criatura fabricada e sem méritos empurrada apenas pelo poder do seu criador, nem Caiado pode exagerar na dose e permitir a transformação do seu candidato em um imperativo – passando a impressão de que estaria exigindo a” nomeação” dele para a prefeitura. Isso já ocorreu antes: em 2000, quando Lúcia Vânia desempenhava um mandato de deputada federal, ela concorreu em Goiânia pelo PSDB do então governador Marconi e protagonizou um fiasco, não chegando sequer ao 2º turno, quando Pedro Wilson (PT) derrotou Darci Accorsi (PTB). Na campanha, tanto Marconi quanto o prefeito da época Nion Albernaz foram para a televisão propagandear: só Lúcia serviria. Qualquer outro candidato mergulharia a capital no caos. Cobraram o voto, por assim dizer, gerando uma reação avassaladora das eleitoras e dos eleitores contra uma imposição descabida.
Esse será o desafio de Caiado: achar o ponto exato de equilíbrio entre recomendar o seu preferido ou escorregar para algum tipo de coação, mesmo bem-intencionada ou produto de um acidente de comunicação (isso será resolvido pelo marketing do horário gratuito de propaganda política), talvez como fizeram equivocadamente Marconi e Nion, ambos naquele momento positivamente avaliados e procedendo de triunfos eleitorais recentes em Goiânia. Tinha que ser Lúcia Vânia, forçaram além do limite os dois. As urnas refugaram a pressão e elegeram um professor universitário com passagem tumultuada pela reitoria da PUC (Pedro), recusando de lambujem um ex-prefeito com memória de boa gestão (Darci). Daqui para ali, pode acontecer de novo, caso os interessados não tomem as precauções necessárias.