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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

02 fev

Um ano depois, até o agro defende a “taxa do agro”

Poucas vezes um governador goiano teve uma vitória política tão significativa e repleta de desdobramentos no front administrativo como Ronaldo Caiado na implantação da chamada “taxa do agro”, que acaba de fechar uma arrecadação superior a R$ 1 bilhão de reais em quase 12 meses. Contestada com veemência e até com violência no início do ano passado, quando apreciada pela Assembleia Legislativa e fazendeiros destrambelhados invadiram e depredaram o plenário da Casa, o novo imposto acabou se transformando em um sucesso sem precedentes, hoje comemorado pela maioria esmagadora das lideranças classistas do Estado, tanto da economia rural quanto da industrial.

Esses dois setores da economia se comunicam intimamente em Goiás. Empresários e milionários urbanos investem sistematicamente seus lucros no campo. Um exemplo é o caso de Jânio Darrot, dono de uma gigantesca confecção de roupas espalhada por vários pontos da região metropolitana, mas combinando com tudo isso a condição de um dos maiores plantadores e confinadores de gado na planície do Araguaia. Não à toa, a ADIAL – associação empenhada em salvaguardar as vantagens dos beneficiários dos incentivos fiscais – tem sido recorrente na exaltação da ideia da “taxa do agro”, que alimenta os cofres do FUNDEINFRA, um fundo financeiro público 100% voltado para o financiamento de obras rodoviárias. É para lá se destinou o primeiro bilhão levantado, com imediata aplicação em 44 projetos de conservação, abertura e duplicação de GOs.

O triunfo de Caiado, na polêmica sobre o tributo, não é só político, como, ainda, moral. O agro, como se sabe, traiu o governador, um guardião histórico dos seus interesses, e se aventurou no apoio à candidatura do bolsonarista Major Vitor Hugo, em 2022. O resultado, um fiasco: sem conexões com as goianas e os goianos, o militar soçobrou em 3º lugar, com reles 500 mil votos. Caiado ganhou mais um mandato, no 1º turno. Visionário, percebeu o erro da sua antiga base e aproveitou o espaço para formatar uma contribuição fiscal compulsória já cobrada nos dois Mato Grosso e não hesitou. A gritaria foi grande, inutilmente. O governador estava seguro do seu passo e nem quatro meses haviam se passado da data da reeleição quando a “taxa do agro” estava institucionalizada.

 

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Até o final do mandato de Caiado, em 2026, os cofres estaduais terão recebido um reforço superior a R$ 4 bilhões, com potencial para chegar aos R$ 5 bilhões. E praticamente ninguém reclama mais. As viúvas do PSDB ainda fazem críticas e chegaram até a inventar um natimorto departamento do partido, batizado de Tucanagro, para seguir combatendo a taxa. O PT, cujos deputados estaduais (Adriana Accorsi e Antônio Gomide) votaram com discursos vibrantes contra o projeto apostando em faturar algum prestígio com os produtores, nunca mais se manifestou, envergonhado por se alinhar com um setor da economia alucinado no horror à esquerda e sempre disposto a fazer o possível não somente para vê-la derrotada eleitoralmente, porém, antes, para aniquilá-la.

Mais uma vez, Caiado pensou e agiu fora da caixa para criar a taxa do agro, ao enxergar a oportunidade de arranjar uma inovadora inédita fonte de dinheiro para o seu governo e ao mesmo tempo se preservar de desgastes face ao seu mais antigo grupo de sustentação política, o campo. Quebrou parâmetros. Tanto que hoje, pelo Estado afora, a aprovação do governador mantém-se intacta. Aliás, mais, até. A avaliação positiva cresceu extraordinariamente desde o início do ano passado, quando andava pela casa dos 60%. No momento, situa-se entre 77 e 83%, conforme a apuração dos institutos de maior credibilidade. A “taxa do agro” não influenciou em nada. Ou, se influenciou, acabou plenamente a favor de Caiado.