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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

13 fev

Sem romper, Mendanha se afasta e isola Vilmarzim

Existe um clima de tensão entre o ex-prefeito e maior liderança política de Aparecida Gustavo Mendanha e o atual, Vilmar Mariano. E isso não é novidade. Desde a posse de Vilmarzim, em abril de 2022, quando Mendanha renunciou para se candidatar e perder o Palácio das Esmeraldas, os dois vivem um lento processo de distanciamento – basicamente provocado pelas tradicionalíssimas e inevitáveis intrigas entre quem deixa e quem assume o poder em um contexto histórico e geográfico qualquer. Não há sinais de acontecer.

Mendanha e Vilmarzim não fugiram à regra. O problema é que não há comparação possível entre os dois: Vilmarzim é peixe pequeno, um lambari, no máximo, apesar do ambiente provinciano, enquanto Mendanha, um tubarão já com o nome estadualizado. Candidato à reeleição, o prefeito só teria chances adquirindo a estatura de um gigante capaz de enfrentar um adversário perigoso como o deputado federal Prof. Alcides, do PL bolsonarista, hoje líder absoluto em todas as pesquisas realizadas em Aparecida.

Nanocandidato, portanto, com aprovação administrativa também baixa, Vilmarzim poderia compensar os centímetros e as gramas faltantes ao seu porte político com o apoio rasgado e ostensivo de Mendanha para faturar um novo mandato. Sem o ex-prefeito ou com o ex-prefeito ao seu lado apenas formalmente, sem engajamento real na campanha, continuar na sala principal da Cidade Administrativa a partir de 2025 não passa de miragem. Quem se sentará no trono será o Prof. Alcides.

Mendanha se julga maltratado por Vilmarzim – e até certo ponto ultrajado. A avaliação é correta. Vilmarzim só ganhou o cargo porque ele, Mendanha, o colocou lá. Aliados detentores de vagas importantes no secretariado, como o então secretário de Fazenda André Rosa, acabaram sumariamente dispensados. O ex nunca mais foi ouvido pelo sucessor na definição de projetos e políticas públicas para a população. Mayara, a primeira-dama de Mendanha, dona de um papel ativo na assistência social durante a gestão do marido, foi escanteada. Fofocas tomaram conta dos bastidores e o resultado esperado é que, mesmo sem romper, um e outro se afastaram, mais por iniciativa de um do que de outro.

 

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De janeiro para cá, Mendanha sumiu… das proximidades de Vilmarzim. Mais fácil é vê-lo ao lado do governador Ronaldo Caiado ou do vice Daniel Vilela. Não esteve sequer no aniversário do prefeito, festa esvaziada preparada para tê-lo como o principal convidado (aliás, nem Caiado nem Daniel deram as caras). Não prestigiou a inauguração da nova sede da CODAP, a companhia de desenvolvimento de Aparecida criada na reta final de Mendanha na prefeitura. Não teve a presença registrada em qualquer das dezenas de entregas de ruas asfaltadas e praças reformadas por Vilmarzim e mais uma miríade de eventos oficiais da rotina do prefeito. Em janeiro, faltou pela primeira vez em anos a um tradicional e monumental culto de ação de graças dos evangélicos aparecidenses. Finalmente, acompanhado pela primeira-dama Gracinha Caiado, visitou o setor Rosa dos Ventos, talvez o mais carente da cidade, para conversar com os moradores e encaminhar a distribuição de programas sociais. Não chamou nem comunicou nada a Vilmarzim.

Existe uma ruptura não declarada entre Mendanha e Vilmarzim. O potencial é devastador e pode enterrar a recondução do incumbente de Aparecida, por sua vez pouco interessado em soldar e eliminar essa rachadura. A quem quer ouvir, diz que não está nem aí e que não vai se arrastar para ninguém, além de confiar plenamente no próprio trabalho para conquistar mais quatro anos na chefia do município. É o que se verá, em menos de sete meses, quando chegar a hora fatal das urnas.