A “façanha” de Naves: ficar fora da sua própria sucessão
Roberto Naves, o desconhecido professor de cursinho por duas vezes eleito prefeito de Anápolis contra todas as expectativas, está hoje completamente sem condições de influir na sua própria sucessão. Não tem um candidato para apoiar, amarga uma rejeição que até mesmo leva a sua proximidade a ser dispensada pelos postulantes mais bem colocados, e caminha para o fim do segundo mandato sem conseguir uma marca para os oito anos à frente da prefeitura anapolina.
Na primeira eleição, Naves venceu com um discurso de antipolítica. Na segunda, foi carregado pelo antipetismo. Até o então presidente Jair Bolsonaro apareceu na sua campanha. Mas aí a sua sorte parece ter se esgotado. Hoje, é um “político” solitário, sem aliados, e ainda por cima pelo investimento em uma familiocracia, depois de empurrar a mulher Vivian Naves para a Assembleia Legislativa, arrebatamento diretamente relacionado com o seu isolamento face a todas as forças políticas de Anápolis.
LEIA AINDA
Bolsonarismo e decadência de Anápolis deixam Gomide perdido
Duas décadas sem investimentos: por que as grandes empresas trocaram Anápolis por Aparecida
Legado de Gomide e Naves para Anápolis é a perda do antigo poderio econômico
No seu último ano, o prefeito se debate com uma cruel crise financeira, com cortes de salários e gratificações do funcionalismo e a atrasos no pagamento de fornecedores, aumentando a sua impopularidade. Pior: a cidade, outrora polo industrial, entrou em decadência econômica e empatou tecnicamente com Aparecida no ranking do PIB dos municípios goianos. Outra notícia ruim: nas pesquisas para o pleito de outubro, os candidatos mais bem posicionados são seus desafetos: o petista Antônio Gomide, o campeão, beirando os 40%, e o emedebista – por ora – Márcio Correa, na faixa dos 10%. Em tempos pretéritos, Naves sonhou com a candidatura do ex-deputado federal Major Vitor Hugo, que não só recusou a ideia como também tratou de se afastar e hoje se alinha com Márcio Correa.
Não há saída à vista. O prefeito de Anápolis já sonhou com um futuro em que viria a ser candidato a senador ou a vice-governador. Essa ilusão se desvaneceu como fumaça no ar. Os anos de poder foram desperdiçados sem a construção de uma liderança orgânica e consumidos pela vaidade que muitos dos poucos amigos e muitos inimigos enxergam passar da conta em Naves. A “façanha” de não ter um nome pelo qual trabalhar na sua sucessão deve passar para a história pelo ineditismo. É coisa que nunca se viu antes em Goiás.