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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

01 abr

Há 15 anos sem vir a Goiás, Lula segue rotina de marcar visitas e cancelar

Pode ter passado despercebido para a maioria dos veículos de comunicação, mas não para este blog: o presidente Lula, há quase 15 anos sem colocar os pés em Goiás, novamente marcou uma visita – ou permitiu que petistas falando por ele o fizessem – e no final das contas mudou de ideia. Não veio, como fez por três ocasiõess sucessivas no ano passado, o primeiro do seu terceiro mandato.

Lula agendou uma viagem a  Rio Verde em junho de 2022 para inaugurar pela enésima vez a Ferrovia Norte-Sul. Cancelou. Em seguida, para julho, combinou com o senador Jorge Kajuru uma reunião “reconciliatória” com 100 empresários em Goiânia. Cancelou. Para setembro, deu a impressão de que viria para inspecionar a obra do aeroporto de cargas de Anápólis e anunciar a construção do anel viário Goiânia-Aparecida ou a duplicação Rio Verde-Itumbiara. Cancelou. Por fim, a petezada se engalanou em março último para receber o presidente, a pretexto de inaugurar o campus da UFG em Aparecida. Para surpresa de ninguém, Lula também cancelou.

 

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Como se sabe, é sólida a convicção de que o petista tem ojeriza por Goiás e pelas goianas e goianos. Nunca venceu uma eleição aqui, com exceção de 2002. Em todas as demais, foi surrado e por diferenças sempre significativas, como se deu nas urnas de 2022 – se dependesse exclusivamente dos votos estaduais, Jair Bolsonaro estaria despachando no Palácio do Planalto. Pior: Lula é uma espécie de cabo eleitoral negativo na pátria do pequi. Os próprios candidatos do PT parecem recear a sua presença no palanque, tirando votos. Óbvio: nenhum deles, como Adriana Accorsi, em Goiânia, e Antônio Gomide, em Anápolis, nunca admitirá esse temor, sob pressão da disciplina soviética do partido da bandeira vermelha. Mas que é fato, isso é.

Como pano de fundo para essa insistência de Lula em não dar as caras em Goiás, há ainda o perfil ideológico de uma economia em que o agronegócio, conservador por natureza, espraia por todas as classes sociais um sentimento de direita – o que explica o  espetacular acolhimento popular dedicado a Bolsonaro todas as vezes que vem ao Estado. O Jair mobiliza multidões, até mesmo quando vai ao dentista goiano que trata do seu sorriso ou aparece repentinamente em uma feira para devorar pasteis, a exemplo da apoteose ocorrida em Nova Veneza. Quando é que Lula teria coragem para fazer o mesmo? Jamais.