Adib aposta alto ao propor volta ao passado com Velomar
Em 2012, o médico Adib Elias estava consagrado como o maior líder da história política de Catalão. Havia governado o município por dois mandatos, mandava na prefeitura através do poste Velomar Rios e mais uma vez apresentava sua candidatura, buscando a terceira vitória (ou quarta, considerando-se a malsucedida passagem de Velomar). Adib dava tão certa a sua recondução que mal fez campanha, menosprezando o adversário Jardel Sebba. Não foi, por exemplo, a nenhum dos debates, nem mesmo ao último, promovido pela Rede Globo no mesmo horário nas maiores cidades brasileiras.
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Mas a roda da fortuna girou e Adib recebeu o sopro divino, como um Lázaro da política. Jardel foi mal na gestão e ressuscitou o seu mais ferrenho antagonista. Adib recuperou a prefeitura com facilidade, por oito anos, cavalgando votações espetaculares. E aí não foi possível evitar: junto com o poder redivivo, veio a húbris – um conceito da Grécia antiga que pode ser definido como confiança excessiva, orgulho exagerado, presunção, arrogância e mesmo alguma bazófia. Com um detalhe: nos mitos helenísticos, a húbris sempre termina punida pelos deuses. Adib, turbinado pelo seu inesperado renascimento, passou a achar que poderia tudo e perdeu a prudência. Sua ação mais ousada, nesse caminho, foi a escolha, agora, de Velomar Rios(foto abaixo) como seu candidato nas eleições municipais deste ano.
Dizia-se que Velomar, o coveiro que enterrou Adib em 2012, vinha liderando as pesquisas e que, daí, seria um candidato imbatível e inevitável. Talvez, sim. Como, também, talvez, não. No primeiro levantamento publicado após a sua oficialização, saiu-se modestamente. Os dois nomes mais fortes da oposição, o empresário Renato Ribeiro (PL) e o pecuarista Elder Galdino (Republicanos), somados, exibem mais intenções de voto que um Velomar limitado a 32%, segundo o instituto Direct. Um cheiro de chifre queimado tomou conta do ambiente político em Catalão. E se Adib errou ao escolher um representante que já se provou incompetente para gerir um município hoje industrialmente dinâmico e de projeção nacional graças ao seu poderio econômico?
É que, em Catalão, surgiu uma novidade: o empresário Renato Ribeiro(foto acima), embalado pelo bolsonarismo que, é claro, também é forte ali. Porém, não se trata apenas de se beneficiar da polarização ideológica. A candidatura de Renato Ribeiro vai além. Ele é renovação total. Tem credibilidade para isso. Adib leu mal os estudos qualitativos que encomendou. Sim, é verdade que Adib é visto como um líder nato entre as catalanas e os catalanos. No entanto, é mais do mesmo. Em quase 30 anos de militância ativa, Adib nunca evoluiu. Usa as mesmas palavras e repete o mesmo raciocínio de eterna vanglória, intumescido pela desmesurada húbris. As pessoas que o cercam, inclusive Velomar, envelheceram sem que um rosto novo tenha surgido para comprovar uma mínima reoxigenação. O que Adib está propondo, com Velomar, é uma volta ao passado. À mesma prefeitura dos tempos de antanho.
O que vai estar em jogo em outubro vindouro em Catalão é um confronto que sempre sacode os embates eleitorais: o moderno, o atual, o contemporâneo como alternativa para o arcaico, o desgastado, o anacrônico. Esse cenário dá nítida vantagem para Renato Ribeiro, desde que está conseguindo montar um projeto consistente e estruturado para a cidade, com sustentação em um partido, o maior do Brasil, no caso, o PL do Jair. De cara, é um começo interessante. É ainda uma oportunidade que surgiu e parece estar sendo bem aproveitada ao encarnar a ideia de mudança ardorosamente reclamada há décadas pela população de Catalão, cansada de viver um presente com ranço de coisa antiga. Para azar de Adib Elias, nos seus 72 anos abalados pela Covid, sob a ameaça de ser tragado por um triste desfecho no ocaso da sua carreira política.