Gestão ou polarização? Esses 2 filtros, combinados, decidirão em Goiânia
Todos os políticos envolvidos na disputa pela prefeitura de Goiânia confluem em um argumento: o pleito será decidido pela preocupação do eleitorado com a gestão da cidade e não por supostos filtros ideológicos. Todos? Não. Há uma exceção e é preciso respeitar: trata-se do deputado federal Gustavo Gayer, o candidato do PL que recusa-se a falar em gerenciamento urbano para a capital e insiste no discurso da radicalização entre esquerda e direita dominante no país.
Até o Major Vitor Hugo, ícone do conservadorismo radical, aconselhou Gayer a falar menos em confronto de ideias entre o bolsonarismo e o lulismo e a priorizar o debate sobre o dia a dia da vida em Goiânia. Gayer não deu a mínima. Mesmo assim, todas as pesquisas apontam para o seu nome em empate em 1º lugar, ora diretamente com o senador Vanderlan Cardoso (PSD), ora com Vanderlan e Adriana Accorsi (PT) no mesmo nível.
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Se Gayer se sustenta exclusivamente na antagonização fomentada dia e noite pelo bolsonarismo (e, de resto, também pelo presidente Lula) e se está com mais de 20% das intenções de voto, em paralelismo de condições com Vanderlan e com Adriana (essa parece estar caindo, segundo os últimos levantamentos), isso só pode ter um significado: a polarização está viva e vai influenciar a escolha do próximo número um do Paço Municipal. Não há como negar.
De outro lado, a boa posição de Vanderlan no ranking das intenções de voto, hoje, indica existir também um viés administrativo no olhar das goianienses e dos goianienses quanto ao próximo prefeito. O senador é só isso, ou seja, vive da fama criada pelo seu sucesso empresarial e pela sua bem-sucedida passagem pela prefeitura de Senador Canedo. Ele, com seus 20%, e Gayer, igualmente na mesma faixa, representam a certeza de que ambos os fatores – a gestão e a polarização – estarão presentes quando saltar das urnas de outubro vindouro o veredito final.
Onde entra Adriana Accorsi nisso tudo? Ela é um poço de contradições. Chamada de “delegada vermelha” pela revista Veja em uma ampla reportagem nesta semana, Adriana capta simpatia por ser mulher e se vincular profissionalmente a um dos grandes temas do momento nacional, a segurança pública. Mas a insistência com que tenta se afastar do confronto entre campos conceituais, ou seja, direita e esquerda, abrigando-se na tese de que um prefeito só tem a ver com a problemática urbana cotidiana e nada mais, revela o contrário: quer dizer, ela está convicta de que o bolsonarismo em Goiânia é uma força maior que o lulismo e que, para escapar ao prejuízo, cabe negar a importância desse conflito para facilitar a aceitação do seu nome.
Ainda é cedo para conclusões definitivas. Faltam pesquisas, por exemplo mostrando o impacto do lançamento do nome do ex-deputado federal Sandro Mabel pela base governista. É algo ainda quantificar, mesmo porque o avalista de Mabel é o governador Ronaldo Caiado, do alto dos seus fantásticos 86% de aprovação de cabo a rabo em todo o Estado. O apoio de Caiado tem peso, embora por enquanto esvaziado pela inabilidade do candidato em se mostrar à altura da distinção.
O painel da corrida pelo trono do alto do Park Lozandes está desenhado, porém carregado de nuvens cinzentas que dificultam enxergar com clareza o horizonte. Fato é que Gustavo Gayer, Adriana Accorsi e Vanderlan Cardoso pontificam no páreo, sob pressão de um concorrente com possibilidades como é teoricamente Sandro Mabel. Quatro pretendentes com chances, portanto. Nenhum, até agora, capaz de apresentar seja propostas para o futuro de Goiânia seja uma perspectiva crível sobre o que se propõe a fazer para avançar no que o maior centro urbano estadual terá a oferecer aos seus moradores. Estamos estagnados.