País vai querer um bolsonarista moderado e é aí que entra Caiado

A esquerda morreu no Brasil. Não é este blog que anuncia essa fatalidade, mas os próprios ícones teóricos do PT, como o cientista político Vladimir Safatle (Safatle acaba de sacudir o partido com o seu livro Alfabeto das Colisões, ao proclamar que só a direita tem projeto para o país, no momento) ou o ministro da Fazenda Fernando Haddad (“A esquerda é analógica e tem muito a aprender com a direita”) e centenas – literalmente centenas – de analistas políticos confluindo na identificação do governo Lula como retrógrado, imobilizado e incapaz de assumir uma agenda de avanços, preferindo se moldar no passado da guerra fria e do alinhamento com tiranias. As pesquisas indicam: o eleitorado quer a direita e, mais, quer uma direita moderada, o que também pode ser lido como portas abertas para um projeto eleitoral, em 2026, encabeçado por uma liderança conservadora de corte liberal e democrático.
É aí entra o governador Ronaldo Caiado. O próprio Jair Bolsonaro parece ter compreendido: um candidato a presidente de centro-direita será muito, mas muito competitivo contra Lula da Silva ou quem o PT indicar (lembrando: o partido da estrela vermelha não tem ninguém com potencial teórico para vencer a não ser o presidente). Mais que um bolsonarista raiz, tipo a esposa Michelle ou o filho Eduardo. Caiado entrou nesse jogo. Não é o primeiro do ranking, posição por ora reservada ao governador de São Paulo Tarcísio de Freitas. Mas, a essa altura dos acontecimentos, o governador goiano emplacou a segunda colocação. Cresceu tanto que o próprio Jair, nesta semana, acabou rendendo elogios a ele e finalmente admitiu: Caiado está no páreo para herdar os seus votos.
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“Vamos em frente, nós acreditamos em vocês, nós acreditamos no Brasil e, se eu não voltar um dia, fiquem tranquilos. Nós plantamos sementes ao longo desses nossos quatro anos”, disse Bolsonaro na Agrishow, em Ribeirão Preto, para em seguida surpreender, apontando para Caiado e afirmar que “tem sementes mais velhas também” […] “com condições de germinar e dar bons frutos ao país”. Tarcísio, claro, também recebeu referências positivas. Saltou do evento uma conclusão: o ex-presidente passou a admitir, além de Tarcísio, Caiado também como o candidato a apoiar em 2026, não alcançando ele, o Jair, as condições de elegibilidade, o que é certo.
É preciso um olhar para as raízes do bolsonarismo. Esse movimento surgiu em reação à podridão do PT e seu contínuo envolvimento em casos bilionários de corrupção. Ocorre que, no poder, o Jair se excedeu. Atraiu a repulsa do centro e das faixas esclarecidas da população. Combateu as vacinas e planejou um golpe de Estado. Foi isso que deu a vitória a um envelhecido Lula, o mesmo que agora está viabilizando a volta do bolsonarismo, porém sob um viés de equilíbrio e sobriedade. Tarcísio de Freitas veste esse figurino. Caiado, idem. Nas perspectivas postas no momento, um dos dois será o futuro presidenciável do bolsonarismo e particularmente de Bolsonaro.
Caiado, a propósito, conta com um trunfo de ampla repercussão, qual seja o sucesso estrondoso da sua estratégia de segurança pública. Trata-se de um item que as brasileiras e os brasileiras escolhem em primeiríssimo lugar quando perguntados sobre qual a sua preocupação prioritária. Em Goiás, todos os índices de criminalidade despencaram de forma drástica e isso é do conhecimento geral, tem ressonância em todos os Estados e em todos os cantos. Projeta Caiado como um presidente capaz de oferecer resposta a um desafio, aliás, que o PT não consegue resolver, diante da histórica complacência da esquerda ao enxergar e justificar a bandidagem como produto das desigualdades sociais e como justa reação contra as classes dominantes. Fechadas as contas, a violência segue em frente sob o governo Lula e ameaça a paz social, tirando a tranquilidade das famílias. Ooooops… menos em Goiás.
Pela primeira vez na história, um goiano passou a ser levado a sério em termos de governar o Brasil. Iris Rezende tentou. Marconi Perillo, idem. Nenhum passou da vontade e do ridículo de se apresentar para uma candidatura muito acima das suas biografias e capacidades. Caiado, ao contrário, chegou lá. Se houver três, quatro ou cinco nomes lembrados para 2026, ele é um deles. E dentro de um espectro político e ideológico que ganha força a cada dia como provável corrente hegemônica nas urnas que escolherão o substituto de Lula. Caiado presidente do Brasil? Sim. E não está distante.