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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

06 maio

Grandes empresários de Goiás viram as costas para as irmãs e irmãos do Sul

Goiás tem uma classe empresarial pouco solidária com as brasileiras e os brasileiros necessitados. Apesar de ganhar bilhões deixando de pagar impostos, sob o manto dos incentivos fiscais, os capitalistas estaduais sempre revelaram um comportamento egoísta: todos os seus ganhos revertem-se para os seus próprios negócios e para os seus bolsos idem. Foi o visto, por exemplo, na pandemia da Covid-19. Enquanto investidores nacionais de peso transferiam fortunas para ajudar a minorar o sofrimento dos segmentos vulneráveis da população, os empreendedores goianos se fingiram de cegos, mudos e surdos.

Pouquíssimas exceções foram registradas, como no caso da Destilaria Jales Machado, única companhia goiana listada na Bolsa de Valores de São Paulo, ao fornecer álcool hidratado à vontade para colaborar com a rede pública de hospitais, também quanto aos três maiores grupos de comunicação do Estado – Jaime Câmara, Record e Serradourada, ao repassar toneladas de cestas básicas para a OVG. Houve mais alguns: o Grupo Novo Mundo enviou 500 colchões para as unidades estaduais e municipais de Saúde, enquanto R$ 500 mil cash foram doados por uma produtora de alimentos dirigida por Sandro Scodro, filho do presidente da FIEG Sandro Mabel.

Mabel pai, no entanto, decepcionou. A instituição sob o seu comando, a FIEG, propagandeou com espalhafato, na época, a doação de 100 termômetros para os hospitais públicos. 100 termômetros! E ainda promoveu uma campanha de arrecadação de alimentos, limitada a dois ou três mil quilos de gêneros, para repasse a entidades filantrópicas, mercadoria que não completou a carga de um caminhãozinho como os montados pela CAOA em Anápolis – aliás em uma fábrica cujo terreno e edificação foi inteiramente doada pelos contribuintes goianos (detalhe significativo porque a empresa também não abriu os cofres para a generosidade com o próximo, por ocasião da pandemia e nem agora, em relação aos desastre gaúcho).

 

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Com o episódio das inundações no Rio Grande do Sul, esse triste comportamento dos barões da indústria goiana se repete. Pelo país afora, corre uma mobilização para arrecadar o possível para socorrer os desabrigados do Sul. Não em Goiás, contudo. Entidades poderosas como a FIEG, a FAEG, a FECOMÉRCIO e a ADIAL, que representam juntas cerca de 65% do PIB estadual e têm entre os seus associados beneficiários de mais de R$ 20 bilhões anuais em ICMS perdoado via benesses tributárias, mergulharam em um silêncio constrangedor. A insensibilidade exposta quando da Covid-19 parece estar se replicando.

Empresários, em Goiás, são pouco afeitos a contribuir com a coletividade. Cumprem as exigências sociais de reciprocidade colocadas pelos programas de isenção de ICMS e se sentem desonerados. Não se responsabilizam nem pelos jardins públicos à frente dos seus empreendimentos. Alegam, geralmente, criar empregos como ajuda suficiente, como se praticassem uma benemerência. Besteira pura. Empregos são gerados na menor quantidade possível, apenas no volume indispensável para a produção. Abrir os cofres, de coração aberto, para compensar as agruras das vítimas de cataclismas, aí, sim, é deixar claro que sobrevive um espírito humanitário e cristão entre os donos do dinheiro na terra do pequi.

 

Atualização, em 7/maio/2024 – O governador Ronaldo Caiado, além de enviar uma equipe do Corpo de Bombeiros bem equipada e altamente especializada em salvamentos, abriu uma campanha para arrecadar alimentos e tudo o mais de utilidade para as populações afetadas do Rio Grande do Sul. Igualmente, o presidente da Assembleia Bruno Peixoto. Há outras entidades se mobilizando em Goiás, como o Condomínio Alphaville. Mas o grande empresariado segue omisso.