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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

21 jun

Aava Santiago decola e vira celebridade evangélica nacional

Uma manchete na primeira página da Folha de S. Paulo, nesta semana, consolidou em definitivo a vereadora goianiense Aava Santiago como celebridade nacional, mesmo restrita ao campo evangélico, mas ensaiando superar esse limite. Aava é do PSDB, um partido de nariz torcido para o destaque que ela vem recebendo desde quando foi convidada, após a eleição presidencial de 2022, para integrar os grupos de planejamento que discutiram e prepararam planos para o governo Lula 3.

Aava é um show. Define-se como “mulher periférica, mãe, evangélica e parlamentar” e é verdade. Saiu dos subúrbios da região noroeste da capital para se transformar em voz de defesa dos direitos femininos muito além dos estreitos limites da Câmara Municipal de Goiânia. É uma contradição latente e difícil de explicar ela integrar um partido em decadência e sem identidade ou projeto como o PSDB. Ao falar à Folha, ela escangalhou a estratégia de aproximação com o segmento evangélico oportunisticamente assumida por Lula. “Ele fala só com os magnatas da fé, não chega à base evangélica”, alfinetou Aava – e foi manchete. Relembrando: de primeira página.

Este blog tem repetido: cada vez mais, ganham espaço em Goiás e no país as lideranças políticas que pensam e agem fora da caixa. Ou seja: que escapam ao tradicionalismo e procuram inovar deixando para trás a velha política, os chavões e as práticas arcaicas. O governador Ronaldo Caiado é um exemplo, ao fazer um governo sem influências deletérias de partidos, deputados e grupos de pressão. Está aí explicado grande parte do seu enorme sucesso, comprovado pelos 86% de aprovação conquistados entre as goianas e os goianos e pela completa ausência de oposição.

Entre os próprios evangélicos, um segmento religioso conservador por natureza (a partir da leitura literal de um livro escrito por seres humanos, mas atribuído por eles a uma fonte divina), Aava Santiago é uma personagem revolucionária. Vejam a formulação da vereadora para a Folha: “Mais do que os preceitos de amor e justiça do Evangelho, é a experiência comunitária na igreja que me dá a compreensão de que acolher mulheres e meninas em suas dores e dificuldades deve ser um compromisso de todos os crentes que reconhecem seu chamado para servir e abençoar pessoas”. Fantástico. O que a Aava está dizendo é que o pacto social da igreja evangélica deveria ser muito superior às ladainhas repisada pela maioria dos atrasados e misóginos pastores (e pastoras), absorvidos pelo fundamentalismo bíblico usado para ameaçar e manter dóceis os fiéis. Infelizmente, não é.

Aava Santiago está longe de ser perfeita. Tem as suas contradições e, como é comum entre a classe política, faz concessões e se ajusta ao meio em que transita para sobreviver, tal qual indica a sua filiação partidária a uma legenda sem eira nem beira como o PSDB. Faz parte do jogo. Mas não a impede de enfrentar as pressões e defender as suas crenças e bandeiras com liberdade total, assim como ultrapassa os freios evangélicos. Confiram: “Condeno a hipocrisia daqueles que dizem se preocupar com a vida, mas instrumentalizam a fé de comunidades plurais formadas, muitas vezes, por fiéis empobrecidos e vulnerabilizados, para revitimizar mulheres e meninas traumatizadas que, muitas vezes, também são nossas irmãs de fé”. Aava está criticando a sua própria igreja. Viva Aava.