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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

28 jun

Campanha sem apoiadores transforma-se em calvário para Vanderlan

O senador Vanderlan Cardos (PSD), como se sabe, é um dos líderes da corrida pela prefeitura de Goiânia. Divide o pódio das pesquisas com a deputada federal (PT) Adriana Accorsi. Antes de desistir, o também deputado federal Gustavo Gayer (PL) andava junto aos dos dois, eventualmente até à frente. Mas saiu e deixou um farturento legado de votos, no entanto, em tese não só para Vanderlan, mas talvez e notadamente para o candidato da base governista Sandro Mabel (UNIÃO BRASIL), Mesmo ainda na ausência de levantamentos de campo mostrando matematicamente o impacto da renúncia de Gayer. Mabel, embalado pelo apoio do governador Ronaldo Caiado e sua elevada aprovação popular, definitivamente vem aí como o herdeiro do espólio eleitoral do bolsonarismo em Goiânia.

E é também aí que as coisas se complicam para Vanderlan. Nunca se viu em toda a história de Goiás um político de importância tão isolado quanto ele. Sentado na cadeira parlamentar mais respeitável da República, Vanderlan deveria atrair apoios e aliados com facilidade e representar algum tipo de projeto coletivo, ao menos de cúpula. Não é bem assim. Ninguém se alinha com o milionário dono das indústrias Cicopal e isso, é claro, o incomoda ao prejudicar a sua pretensão de chegar ao comando do Paço Municipal (e a prova é que vive repetindo não considerar ser esse um ponto fraco, por óbvio significando exatamente o contrário). Ponto pacífico: em eleições, é indispensável a companhia de lideranças de peso – e Vanderlan, incrivelmente, não conta minimamente com nenhuma.

 

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Por que o senador é um político tão sozinho? Primeiro, pela sua natureza pessoal, a de um homem capaz de vencer na vida por conta e risco próprios. Isso provavelmente se reflete na sua autoestima e o afasta de tudo e de todos, por uma introjeção de superioridade. É tema para psicólogos. Politicamente, não gosta de compromissos, os quais, mesmo assumindo para atender a determinados e momentâneos objetivos, mais tarde descarta sem sequer piscar os olhos. Significa, em outras palavras, que fidelidade não é o seu forte. Cumprir acordos, apenas se unicamente para sua vantagem pessoal. O último episódio nesse sentido foi a sua ousada mudança da base bolsonarista no Senado para a bancada de sustentação do presidente Lula, logo após eleito o petista, mantendo indicações na máquina federal. Graças a esse gesto, ganhou para sempre a antipatia dos seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro e inclusive do próprio. Hoje, o Jair e sua turma massivamente acusam Vanderlan de “traição” e “deslealdade”.

Donde se conclui: Vanderlan não se beneficiará jamais da maioria dos votos de Gustavo Gayer em Goiânia e que esses tenderão a ir para Mabel, como preposto da centro-direita na capital baseado no seu perfil de empresário conservador e reforçado pelo selo de autenticidade ideológica carimbado por Caiado na testa do seu candidato. Igualmente, não há dificuldades em prever: Vanderlan passará por um calvário para chegar inteiro à data das urnas. Aliás, já está passando. Foi visitar a Câmara Municipal e não havia vereadores para recebê-lo. Diariamente, é obrigado a criar justificativas para a sua solidão, em um esforço infrutífero para disfarçar como opção consciente o que é uma evidente e danosa lacuna da sua candidatura. Fantasia isso como uma espécie de “independência”, principalmente diante de nomes poderosos da política estadual como o do governador Ronaldo Caiado.

Desculpa esfarrapada. Que o lança em uma estratégia perigosa, como se aventurar em críticas a Caiado, a exemplo da afirmação de que a sua ajuda é desnecessária para administrar a capital. “O que o governador fez em Goiânia?”, pergunta um agressivo Vanderlan todo dia. Em qualquer esquina, a resposta está na boca do povo: “Livrou a cidade da bandidagem”. Um feito espetacular que adquiriu por combustão espontânea repercussão nacional e se converteu suporte para a sua inclusão na lista de hipóteses preferenciais para a presidência da República em 2026. Em qualquer parte do país, não há valor social, no momento, maior que a aspiração de viver protegido da violência e da criminalidade. Como é que se pode dizer que “Caiado não fez nada por Goiânia”, ignorando inclusive os 86% de aprovação que o governador alcança entre os moradores do maior núcleo urbano do Estado? Pode estar aí uma comprovação do quanto o isolamento afeta Vanderlan e desorienta a sua campanha.