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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

06 maio

Como as emendas orçamentárias impositivas destruíram a representação parlamentar em Goiás

Algum tempo atrás, em Goiás, deputados estaduais, federais e senadores cresciam na política na medida das suas capacidades de liderança e de representação de setores da opinião pública ou segmentos sociais, sem falar na projeção decorrente da defesa de bandeiras acolhidas pela maioria da população. O Legislativo era um núcleo gerador de estrelas. Foi assim que despontaram Iris Rezende, Henrique Santillo, Maguito Vilela, Marconi Perillo, o vice-governador Daniel Vilela e o hoje candidato a presidente da República Ronaldo Caiado. Todos eles oriundos de carreiras parlamentares bem-sucedidas. Não foi à toa que ascenderam a passos largos para os mandatos executivos que conquistaram, objetivo maior, desde sempre, de praticamente todos que se dedicam à vida pública.

Notem bem, leitoras e leitores, isso acabou. Sem ressalvas, todos os atuais deputados estaduais, federais e senadores se transformaram em profissionais interessados apenas na perpetuação dos seus privilégios e manutenção vitalícia das suas cadeiras na Assembleia Legislativa, na Câmara Federal e no Senado da República. E bater essa meta é fácil, bastando manipular o mecanismo das emendas orçamentárias impositivas a que cada um tem direito, tanto estaduais como federais. É dinheiro público que, pulverizado com pequenas obras nas bases, garante a fidelidade de prefeitos e, na eleição subsequente, os votos necessários para assegurar o aval positivo das urnas. Tornou-se um vício.

Nenhum deputado estadual, federal ou senador por Goiás, no momento, nenhum deles é postulante a nada, a não ser permanecer onde estão, com um ou outro sonhando com um upgrade para Brasília. Alguém dirá que o senador Wilder Morais, do PL, seria uma exceção, já que aparentemente candidato a governador em 2026. Pode ser e, se for, apenas confirmaria a regra. Da boca de Wilder, nunca se ouviu que pretende disputar o Palácio das Esmeraldas. Não só ele não fala nada a respeito, como está enterrado até o pescoço, como os demais colegas parlamentares, em trabalhar como despachante de luxo para encaminhar verbas diretamente para os municípios e, lá na frente, se reeleger. Sua cota de emendas orçamentárias, anualmente, supera R$ 300 milhões. O jogo de todos é esse, indistintamente.

 

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Dentre os 41 deputados estaduais, 17 federais e três senadores, nenhum se destaca. Ninguém fala nada minimamente inteligente, menos ainda se conecta com a sociedade e segmentos como trabalhadores e empresários ou professores e alunos, só para citar exemplos. Não há pretensões nesse sentido. Eles só pensam nas emendas. Dia e noite, emendas, no café da manhã, no almoço e no jantar, emendas, para suprir as votações futuras que irão salvaguardar seus mandatos se possível eternamente. Dane-se o resto. O resultado é uma espécie de depravação institucional, em que os interesses da população são reduzidos a tratores, ambulâncias, caminhões, ônibus e eventualmente algum asfalto aqui, uma ponte ali. Nada mais. O desenvolvimento geral de Goiás, o crescimento da economia goiana, por exemplo? Esqueçam.

Quando a política ainda não havia sido corrompida pelas emendas orçamentárias milionárias convertidas em direito dos parlamentares, grandes nomes despontaram em Goiás (confira relendo o primeiro parágrafo). Agora, acabou – e não é coincidência. Deputados, estaduais e federais, e senadores agora se limitam a concorrer com o Executivo na distribuição de benefícios para as suas bases. Um deles, José Nelto, se gabou de levar, para o interior, em seis anos, mais de R$ 1 bilhão de reais e esnobou até mesmo o governador Ronaldo Caiado: “Não chega nem no pé”. Verdade. Mas José Nelto também nunca será mais do que… o congressista do baixo clero que já é. Nem ele nem todos os demais que estão no exercício de uma missão que deveria ser nobre, porém acabou avacalhada pela miudeza das conveniências imediatistas dos políticos de uma safra infeliz e precocemente apodrecida.