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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

13 out

Desafio para Caiado não é conquistar maioria na Assembleia, que virá com facilidade, mas mudar as práticas retrógradas e fisiológicas da relação entre governo e deputados – que viraram regra com Marconi

Dezoito dos 41 deputados estaduais eleitos são alinhados com Ronaldo Caiado. Entre os 23 restantes, já se iniciou um movimento espontâneo de adesão ao novo governo, prevendo-se que em breve estará definida uma sólida hegemonia na Assembleia, em torno de 30 votos, para garantir a governabilidade da gestão que se inicia em 1º de janeiro.

 

Por enquanto, conquistar a maioria no Legislativo será coisa simples para Caiado. Governos, qualquer um, exercem forte poder de atração sobre parlamentares, eternamente atrás de facilidades para se reeleger e sobreviver na política. Mas esse não é o ponto principal da relação que, a partir de agora, irá se estabelecer entre o governador e os deputados estaduais eleitos.

 

A questão é outra: Caiado foi eleito sob uma proposta de mudança radical, aliás dentro de um clima eleitoral em que o resultado das urnas varreu os representantes da velha política, os corruptos, os embusteiros, enfim. Ele não pode, assim, reviver as práticas que os governos de Marconi Perillo transformaram em regra na relação entre o Palácio das Esmeraldas e a Assembleia, calcadas no fisiologismo e no desprezo pelas razões de Estado em favor da politicagem barata.

 

Cotas de cargos comissionados e nomeações de apaniguados despreparados para funções técnicas, por exemplo, foram a tônica dominante. Um exemplo é o que Marconi e seu sucessor Zé Eliton fizeram com a Secretaria de Desenvolvimento, que virou valhacouto para a arraia-miúda do PTB e acabou sucateada – apesar dos objetivos de maior importância para Goiás que deveria perseguir. A SED é o produto mais significativo das distorções dos últimos 20 anos no exercício do poder estadual.

 

Esse modelo falido não pode ser mantido por Caiado. Executivo e Legislativo têm que convergir em torno dos interesses da população e deixar de priorizar os interesses miúdos dos deputados estaduais. Quando Marconi foi eleito pela primeira vez, em 1998, ele também representava a mudança e também prometeu trazer um novo modelo de convivência política, mas 20 anos depois estava presidindo uma conexão apodrecida entre governo e parlamentares. A opinião dos goianos sobre essa situação veio expressa no resultado da eleição.

 

Caiado, com o aval de 60% dos goianos, vitorioso em 1º turno, tem a credibilidade e a autoridade que nenhum governador jamais teve para acabar com essa vergonha.