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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

03 set

Não pagar em dia a folha de dezembro foi erro grave de Caiado, que agora não consegue se libertar de um carma cujos reflexos negativos para o governo ainda vão perdurar por muito tempo

Uma inesperada entrevista do ex-governador tampão Zé Eliton ao jornal O Popular, no último domingo, ressuscitou o debate – negativo para o governador Ronaldo Caiado – sobre o pagamento dos salários de dezembro do funcionalismo, somente concluído há poucos dias depois da decisão polêmica, em janeiro, já com o novo governo empossado, que parcelou a sua quitação.

 

A atitude de Caiado foi inédita na história administrativa de Goiás. Ele deu uma barrigada na folha de dezembro para antecipar o pagamento de janeiro ainda dentro do mês, o que, liminarmente, comprova que ele poderia, se quisesse, ter mantido o calendário – liberando os vencimentos de dezembro em torno do dia 10 de janeiro. Embora negue de pés juntos, o governador tomou uma decisão política, quando nada destinada a caracterizar a situação do Estado como de calamidade financeira. E, de quebra, ganhar o discurso de que a gestão anterior deixou uma dívida em aberto com os servidores – o que não é verdade.

 

Até as pedras portuguesas da Praça Cívica sabem que, nos últimos anos, a folha de um mês era sempre quitada com os recursos arrecadados no mês seguinte, até o dia 10. Aliás, legalmente, a Constituição Estadual estabelece esse prazo – que, em tese, tem que ser observado, já que não pode quitar uma folha referente a um mês que ainda não venceu, a não ser por liberalidade extrema do governo. Sendo assim, dentro da rotina da administração estadual, seria normal que os salários de dezembro só fossem solvidos, como nos meses anteriores, por volta do dia 10 de janeiro. É injusto, dessa maneira, acusar Zé Eliton de não cumprir o compromisso de saldar em dia a folha de dezembro.

 

Não pagar dezembro criou um carma ruim para Caiado. Ele não conseguiu convencer ninguém de que liquidar essa folha, no prazo, seria uma espécie de missão impossível, tanto que antecipou janeiro para dentro do mês, prometendo inicialmente que assim seria no seu governo, isto é, que os salários daí em diante seriam pagos dessa forma – compromisso que foi obrigado a engolir, retornando à métrica do dia 10 de Zé Eliton e de Marconi. O resultado: mais de seis meses de desgaste contínuo, que pode ser aferido nos comentários negativos postados às pencas nas redes sociais do próprio governador. O atraso deu também uma imagem de paralisia para a nova gestão, nos seus meses iniciais, e projetou uma ideia de incapacidade para resolver desafios, corroendo a confiança da população. É um estrago que vai demorar para ser consertado. E quanto mais se fala nisso, pior para Caiado.