Quando ia bem e com seguidas demonstrações de força, base de Caiado na Assembleia dá marcha à ré e só não é derrotada por recuar na última hora na apreciação do projeto que desautoriza o pedágio
Depois de passar a imagem de que estava bem formatada e melhor ainda consolidada, a base de apoio ao governador Ronaldo Caiado não resistiu ao primeiro solavanco e deu marcha à ré com a decisão de adiar a apreciação, em segundo turno, de um projeto já aprovado em primeira votação desautorizando a concessão – e, portanto, a cobrança de pedágio – de seis rodovias estaduais.
Prevista para ser levada a plenário nesta terça-feira, 17 de setembro, a matéria tinha como destino certo ser aprovada, apesar de ser considerada negativa para o governo, apesar da suposta base caiadista que há poucos dias viabilizou, em alguns momentos com esmagadores 30 votos, projetos polêmicos como o que reduziu a vinculação constitucional de recursos para a Educação e o que liberou o acesso do Executivo ao milionário fundo do Poder Judiciário que guarda os depósitos judiciais.
O que aconteceu? Primeiro, ficou patente que a maioria do Palácio das Esmeraldas na Assembleia é desorganizada. O líder, Bruno Peixoto, e o vice líder, Zé Carapô, não sabiam que o projeto sobre a concessão de estradas estava tramitando, discretamente, e já havia sido aprovado em primeira votação. Ou seja: deixaram de fazer o serviço para o qual foram designados pelo governador Ronaldo Caiado e foram surpreendidos. Zé Carapô, pior ainda. Na Comissão de Constituição & Justiça, o processo esteve nas suas mãos e ele dormiu no ponto, deixando que prosseguisse. Depois, outro caiadista de primeira hora na Assembleia, o deputado Álvaro Peixoto, também meteu-se na trapalhada. Com o projeto debaixo do braço, pediu a manifestação da Goinfra, em abril, mas, sem receber nenhuma resposta, acabou inocentemente emitindo um relatório favorável. A Secretaria de Governo, que tem uma penca de articuladores parlamentares nos seus quadros, recebendo regiamente, deu a sua contribuição e igualmente passou batida.
Nesse intervalo, algumas raposas felpudas enxergaram a oportunidade de mandar um recado a Caiado. Sim: a base governista na Assembleia está de fato formatada, pode chegar a uma maioria supertranquila de 31 deputados, mas não vai funcionar no modo automático. Cada caso, ou seja, cada projeto, precisa ser tratado individualmente e negociado com deputados que são peças chave para a aprovação final pelo plenário, inclusive o principal deles – o presidente Lissauer Vieira, cujo projeto de reeleição no comando do Legislativo passou a ser ameaçado pela força numérica da base caiadista. Passo a passo, as vantagens são bem mais significativas para todos os deputados, inclusive os da oposição (que se beneficiam com o barulho e os eventuais desgastes do governo).
Em princípio, não é intenção do governo Caiado a concessão de rodovias e a consequente cobrança de pedágio. Mas essa é uma possibilidade que não pode ser descartada em um projeto de ajuste financeiro, com ou sem adesão ao rigoroso Regime de Recuperação Fiscal. A matéria já aprovada em primeiro turno, na Assembleia, incomoda nesse sentido, recomendando os interesses do Palácio das Esmeraldas que não seja transformada em lei. Mas aí é que está: quem cuida desses interesses, em nome do governador, parece não ter preparo para isso.
Atualização: deputados da base do governo entraram em contato com o blog para informar que a matéria foi retirada de pauta, na sessão desta terça, a pedido do seu autor, o deputado Alysson Lima, diante da iminência da sua derrubada. E que, apesar do escorregão, a base está firme.