Essa é a ideia: antecipar da eleição para presidente da Assembleia visa blindar a nova identidade de independência do Legislativo face ao Executivo e para isso é essencial a permanência de Lissauer Vieira
Há um número expressivo de deputados estaduais que acredita ser vantajosa para eles e para a sociedade a nova identidade de independência da Assembleia face ao Executivo, uma das novidades mais explosivas do ciclo histórico iniciado pela posse do governador Ronaldo Caiado em janeiro último. Muitos são aqueles que enxergam em um Legislativo com maior autonomia a possibilidade de maior debate sobre os temas submetidos à sua apreciação, mais circulação de ideias e muitas vezes a possibilidade de aperfeiçoar projetos e matérias conforme o interesse coletivo representado pelos parlamentares.
Para os deputados, fisiologicamente falando, a vantagem é a valorização do passe, levando o governo a uma abertura maior quanto ao atendimento das demandas de que são portadores. Em tese, porque, na prática, a maioria cuida logo de aproveitar para nomear familiares e apaniguados para cargos importantes – como tem sido comum na Legislatura corrente. Há um ditado tradicional em todos os ambientes legislativos no Brasil: governo forte está longe de ser o ideal. De qualquer maneira, há hoje uma uma convicção generalizada, na Assembleia, no sentido de que o status conquistado com a eleição de Lissauer Vieira, contrariando o Palácio das Esmeraldas e conferindo alguma soberania ao Poder, deve ser mantido – daí a proposta de antecipação da eleição do próximo presidente para este mês de outubro ou no máximo até dezembro, evitando que a consolidação de uma folgada maioria governista na Casa possa afetar a recondução do atual presidente para mais dois anos e prolongando a sua permanência até janeiro de 2023, um mês a mais que o mandato do próprio Caiado.
O governador continuaria desfrutando da sua maioria, mas nem tanto. Isso é conveniente para os deputados. Se a eleição para a escolha do próximo presidente for antecipada em mais de ano, como se pretende, parece impossível impedir que Lissauer Vieira seja o vencedor. Sim, Caiado consolidou uma base encorpada, já tendo vencido votações com o apoio declarado de 31 deputados. Mas essa margem não se reflete automaticamente em questões internas da Assembleia. Parte expressiva dos deputados governistas, nesse caso, fica com o presidente, sem vacilar, em função de acordos quanto a divisão da poderosa estrutura que Poder tem e pode distribuir entre os seus integrantes, que governo nenhum seria capaz de cobrir ou compensar.
Essa situação, pela sua complexidade e amarras sólidas, só teria chances de ser modificada em um prazo maior, tal qual, por exemplo, o que decorreria se a eleição do próximo presidente ficasse para a data prevista no regime interno, que é junho do ano que vem. Até lá, uma nova teia de influências e relações poderia ser tecida e ainda assim não com facilidades, mas com imensas dificuldades diante da consistência do ajuste encabeçado por Lissauer Vieira. É para blindar esse pacto que a eleição está sendo antecipada e o atual presidente reeleito, dentro do entendimento de que nenhum outro deputado tem o perfil ideal para encarnar a independência da Assembleia e evitar que haja uma reviravolta. A construção da sede da Assembleia, no Park Lozandes, é uma amostra do efeito positivo apontado pelos próprios deputados como consequência da nova postura do Poder: em oito ou nove meses, com Lissauer, a obra andou mais do que em 20 anos de presidentes sempre bem afinados com o Executivo.
Não há outro caminho para Caiado a não ser se compor com essa realidade, gostando ou não dela.