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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

28 mar

Fala de Vanderlan condenando a quarentena está abaixo das suas responsabilidades como senador e mostra desprezo pela vida ao acrescentar que “abaixo de 30 anos, quase não há mortes”

O senador Vanderlan Cardoso, que não tem formação médica – aliás, nem superior, disse a O Popular que “há exageros” nas medidas de restrição à circulação de pessoas em Goiás que foram adotadas pelo governador Ronaldo Caiado. Notem bem, leitoras e leitores: ele não detalhou quais “exageros” seriam esses, mas se alinhou às teses do presidente Jair Bolsonaro, sugerindo, sem dizer as palavras exatas, que pagar um preço em vidas de idosos e doentes seria, para a sociedade, um prejuízo menor que as dificuldades criadas para o pleno desenvolvimento das atividades econômicas e a manutenção da renda de cada um.

Não é papel de um senador da República em um momento como o atual. Além de ser uma opinião totalmente desprovida de amparo científico ou técnico, trata-se de uma manifestação que não deveria partir de alguém que ocupa um cargo de desse calado e, portanto, deveria ter consciência de que tudo o que sai da sua boca, inclusive os espirros, tem alguma importância. Já está patente, pelo mundo afora, que as decisões das autoridades quanto ao isolamento social são o que de melhor pode ser feito para prevenir os efeitos mortais da pandemia. É melhor parar, agora, do que colocar depois as vítimas em caminhões do Exército para serem cremadas em locais distantes. Segundo o senador, “quase não há mortes abaixo dos 30 anos”, o que não é verdade, mas pareceu soar, conforme a cabeça dele, como uma pena capital para quem está acima dessa faixa etária. (Atualização: levantamento do Ministério da Saúde, que acaba de ser divulgado, mostra que mais da metade dos casos graves, no Brasil, são de jovens e adultos com menos de 60 anos).

O mais inacreditável em tudo isso é que Vanderlan telefonou para Caiado para reclamar do que batizou de “medidas exageradas”. Quer dizer: além de não ter oferecido nenhuma contribuição para a luta contra o coronavírus em Goiás, ainda se mexeu para solapar o que vem sendo feito de bem feito pelo governador. Ah, reconheça-se, ele ofereceu salgadinhos, ou seja, comida processada, fabricados pelas suas empresas para ajudar nas cestas básicas que o governo goiano está distribuindo, o que não é nem um pouco recomendável, do ponto de vista nutritivo. Tais quais as suas opiniões.