Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

03 abr

Enel vai arrancar centenas de milhões de reais das empresas goianas com o faturamento da energia pela média dos últimos 12 meses. Contra isso, a FIEG se acovarda e não fala nada

Autorizada pela Agência Nacional de Energia Elétrica – ANEEL, que costuma favorecer as empresas do setor em detrimento dos consumidores, a Enel suspendeu a leitura individual dos medidores e já está enviando aos seus clientes as faturas que trazem valores apurados pela média dos últimos 12 meses – uma malandragem que penaliza financeiramente as empresas goianas, de todos os tamanhos, que paralisaram as suas atividades, e também muitas  contas residenciais (você que trancou a sua casa e foi para a fazenda, por exemplo).

De acordo com a regulamentação da ANEEL, o dinheiro cobrado a mais, quando acontecer (e vai acontecer em larga escala), será compensado posteriormente, quando a a conferência dos relógios revelar que o gasto foi menor. Essa, leitoras e leitores, é uma bandalheira sem precedentes na história da prestação de serviços de fornecimento de energia no país e também em Goiás: no caso das empresas, como a maioria fechou para atender ao decreto do governador Ronaldo Caiado que impôs, corretamente, o isolamento social, o consumo caiu a praticamente zero, mas o pagamento terá que ser feito – pelos valores extraídos da tal média dos 12 meses – como se o regime fosse de normalidade.

Pior, muito pior: a Enel anunciou que implantaria um sistema de autoleitura dos medidores, inicialmente para o início de abril, depois para o dia 15 e finalmente para a segunda quinzena. Podem apostar, todos: é uma jogada calculada, destinada a garantir que pelo menos duas faturas sejam emitidas pela média dos 12 meses passados, assegurando para a companhia italiana uma monumental arrecadação para atravessar a crise do coronavírus às custas do comércio e da indústria de Goiás, que, na prática, estarão “emprestando” recursos , a custo zero, para a Enel, no instante em que enfrentam uma violenta quebra de caixa. Em um mundo em que a tecnologia está ao alcance da palma da mão, falar em prazos longos para implantar qualquer estrutura online ou virtual é um acinte e uma afronta à inteligência das pessoas. E ainda mais quando de se fala de uma multinacional  com capacidade financeira que nem 500 outras corporações têm no mundo.

Esse é o país em que vivemos: um momento que deveria trazer a solidariedade de todos a favor de todos, acaba servindo para que espertos e desonestos se aproveitem para locupletar as burras. E a FIEG ? O que ela fez ou pelo menos falou contra esse abuso, verdadeiro assalto, contra as empresas goianas, pequenas, médias ou grandes? Claro que… nada.