Relaxamento da quarentena, que não foi o objetivo do novo decreto de Caiado, pode elevar casos e mortes por coronavírus em Goiás e comprometer todo o trabalho de prevenção feito até agora
O isolamento social, que, segundo cientistas do mundo inteiro, é o principal caminho para conter a propagação mortal do novo coronavírus, não é mais o mesmo em Goiás. Depois do último decreto do governador Ronaldo Caiado, que flexibilizou a quarentena sem flexibilizar, isto é, manteve a maioria das atividades econômicas suspensas – transferindo para prefeitos e para a própria população a responsabilidade de voltar ou não a encher as ruas de gente, o que se vê é o que está na 1ª página de O Popular nesta quinta, 23 de abril, em uma foto em tamanho gigante: irresponsavelmente, pelo Estado afora, prefeitos estão liberando não só o comércio, mas setores de alto risco, como academias e até mesmo shoppings centers, na prática permitindo livremente todas e quaisquer aglomerações.
Mas o momento ideal ainda não havia chegado. O sistema público de Saúde avançou muito, em Goiânia e nos municípios, mas não está plenamente preparado para uma explosão de pacientes. Aparecida e Trindade, por exemplo, que são cidades superpovoadas, já voltaram à vida como era antes da chegada da pandemia, por decisão de Gustavo Mendanha e Jânio Darrot. É uma loucura. Inconscientes, seus moradores e empresários correram para reiniciar o seu cotidiano, o que, podem anotar, leitoras e leitores, vai cobrar um preço alto em vidas – e não vai demorar.
Uma matéria de O Popular, há poucos dias, uma das raras a ter alguma serventia na atual crise sanitária, mostrou com dados concretos que as restrições à circulação de pessoas deveriam ser mantidas por mais algum tempo, por medida de segurança contra a Covid-19. Goiás, até agora, vinha se destacando como um dos Estados com maior controle e menor incidência da nova doença. Até agora. Caiado, reconheça-se, lutou como um leão para esticar ao máximo o necessário distanciamento entre todos, neste momento de calamidade sanitária. Colheu desgastes, mas bem menores que o que de positivo incorporou à sua biografia como médico e político que pensa realmente no bem estar da coletividade. Mas não tinha mais como manter a quarentena, pelo menos a radical que seria indispensável, e corretamente transferiu – ou compartilhou – a obrigação não só para os prefeitos, como também para cada goiana e cada goiano, em geral.
Infelizmente, o que está sendo feito com o que seria um dever e um encargo vai nos custar caro.