Caso Maguito repete a falta de transparência que ajudou a matar Tancredo Naves, no passado, e mostra que esconder a verdadeira condição de saúde dos políticos é uma regra ainda seguida
Leitoras e leitores: não se enganem com os comunicados oficiais e as notícias passadas pela assessoria de imprensa do candidato do MDB a prefeito de Goiânia Maguito Vilela. Ele se encontra em um quadro delicado ou grave de saúde, talvez gravíssimo, acometido pela Covid-19, para a qual geneticamente tem baixa resistência (duas irmãs morreram vítimas da doença, uma mais nova e outra mais velha), muito embora seus boletins médicos insistam em que “está bem” e que “não apresenta complicações”, enquanto fica pior a cada dia.
Depois de contrair o novo coronavírus, ignorando essas premissas, primeiro Maguito ficou em casa por precaução, “para evitar transmitir o vírus”. Depois, foi internado em um quarto comum de hospital também por “medida de precaução”, embora apresentando um “estado de saúde muito bom”. Em seguida, foi para a UTI, mais uma vez “por precaução”, onde se constatou que estava com os pulmões comprometidos, o que evidencia a sua falta de capacidade física para enfrentar a Covid-19. Cumulando tudo isso, passou-se a cogitar de uma transferência emergencial para oHospital Albert Einstein, em São Paulo, via UTI aérea, operação repleta de perigos, pasmem leitoras e leitoras, “por precaução”, sempre de acordo com os ridículos comunicados oficiais da campanha do MDB. E provavelmente prejudicado por uma depressão, ou seja, tomado pelo medo de morrer, diante de todos os seus antecedentes, o que não ajuda em uma recuperação.
Desde o início, está tudo errado. A sequência de desacertos é longa. Um homem com quase 72 anos de idade, ou seja, integrante do grupo de alto risco, não deveria ter sido exposto a contatos com apoiadores, reuniões, carreatas e uma intensa agenda de eventos, como aconteceu com Maguito e, pior, sem requisitos sanitários extremos. Aliás, a candidatura, neste momento de pandemia, pode ter sido uma loucura, conforme o autor dessas mal traçadas considerou na época em que foi anunciada. E ele continuou dando mau exemplo ao brincar com a sorte. Por exemplo, usando máscaras parciais de acrílico, teoricamente para facilitar o reconhecimento do seu rosto pelas plateias e pelos bairros por onde desfilou em cortejo eleitoral. Mas, segundo especialistas, esse equipamento não protege nem a quem o usa nem as pessoas com quem se tem contato. Como é que alguém da importância de Maguito, um dos dois candidatos com possibilidade de vencer a eleição para prefeito de Goiânia, comete ou é submetido a um descuido dessa magnitude?
Há um preço e ele foi cobrado com a inevitável contaminação. Gente com a idade de Maguito, ainda mais com as suas condições financeiras, que são inigualáveis, deveria ficar em casa e evitar se expor, ao contrário do que ele fez, atrás da eleição para o lugar de Iris Rezende e sem tomar os devidos cuidados. Sim, porque, na maioria das vezes, ou pelo menos em muitas delas, quem contrai a Covid-19 infelizmente relaxou quanto as normas de prevenção. Parece ser o que houve.
O que está em andamento com o candidato do MDB lembra uma das maiores tragédias da política nacional, que foi a morte de Tancredo Neves a poucos dias de assumir a presidência da República, uma história até hoje mal contada, em que a ocultação de informações ajudou a levar o paciente a óbito. É preciso, urgentemente, que a verdade sobre a condição de Maguito seja revelada ou que, pelo menos, alguém com credencial médica diga o que ele está passando, que o impediu até de atender a um telefonema de Iris Rezende. Eleger-se prefeito de Goiânia, a qualquer custo, não vale a pena. Menos ainda ao custo de correr o risco de perder a vida.