Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

13 nov

Compaixão por Maguito distorce o cenário eleitoral e deve ter consequências em uma eventual gestão: se eleito, ele pode não ter condições físicas plenas e entregar o Paço para a tutoria do filho Daniel

Chegou a hora das eleições em Goiânia e uma constatação é inevitável: a disputa foi contaminada pelo novo coronavírus, que atacou o candidato do MDB Maguito Vilela e criou a seu favor uma onda de solidariedade envolvendo até mesmos os seus adversários, que evitaram fazer críticas e atirar pedras no monumental telhado de vidro do emedebista – assim ganhando espaço para crescer atirando à vontade contra o seu principal concorrente, Vanderlan Cardoso, do PSD, e ainda por cima contando com a ajuda, nesse mister um pouco sujo, de aliados disfarçados como Adriana Accorsi, do PT, e Elias Vaz, do PSB.

Ao infectar Maguito, que foi negligente e imprudente quanto a medidas de prevenção sanitária, a Covid-19 acabou interferindo no quadro eleitoral a curto prazo, mas seus efeitos correm o risco de ir muito mais longe. Sabe-se que, em especial em pacientes do grupo de risco, a doença traz sequelas que variam em grau de seriedade, podendo, em muitos casos, comprometer para sempre a condição de saúde das suas vítimas. Na edição do dia 30 de outubro, O Popular ouviu autoridades médicas e concluiu que “comprometimentos pulmonares, neurológicos, cardíacos e  circulatórios são alguns dos danos que o coronavírus (Sars-CoV-2) pode causar em pacientes que enfrentaram a
doença. A ainda mal compreendida, a síndrome pós-Covid afeta os pacientes das mais diversas formas e quase sempre de maneira multissistêmica. O tratamento destes sintomas, mesmo depois de os pacientes já estarem  recuperados da Covid-19 propriamente dita, pode levar meses e especialistas ainda não conseguem avaliar com
absoluta certeza qual a duração de sequelas como, por exemplo, dores musculares, cefaleia, letargia, dificuldade para respirar e perda de olfato e paladar”.

Trata-se de um vírus realmente insidioso. Nem de longe é uma “gripezinha”, leitoras e leitores. Maguito enfrentará um longo caminho pela frente para alcançar a recuperação plena, se é que conseguirá. A mesma vida que tinha antes dificilmente terá novamente, no mínimo obrigado a um acompanhamento e rigoroso permanente para o tratamento do que O Popular chamou, em manchete de 1ª página de “danos pós-Covid”. Tudo isso são fatos e não especulações. É por isso que, se ganhar e terminar no comando do Paço Municipal, é óbvio que já existe uma solução pré-moldada, que será designação do filho Daniel Vilela como tutor da administração municipal.

É inevitável. O orçamento da prefeitura de Goiânia é o 2º maior do Estado e obriga a uma pesada vigilância, a mesma que Maguito não teve em Aparecida em seus dois mandatos e que o levou a responder a quase 20 processos por improbidade administrativa e também a ter mais ou menos 50 secretários com contas rejeitadas pelo Tribunal de Contas dos Municípios. O que aconteceu na cidade vizinha não recomenda nenhum gestor. Daniel Vilela, cuja eleição para deputado federal, em 2014, deveu-se sintomaticamente ao forte impulso inclusive financeiro que recebeu do seu pai então prefeito, é que exercerá na prática as funções de prefeito da capital.

Claro, a eleição ainda não está definida, mesmo porque haverá um disputado 2º turno entre os representantes do MDB e do PSD, quando ambas as campanhas se confrontarão com mais força, prevendo-se que, dessa vez, Vanderlan vai suspender a trégua e reagir aos ataques de Maguito. Munição existe. Vamos acompanhar e ver no que vai dar. E Daniel Vilela, enquanto isso, já deve estar se preparando para os encargos de eminência parda que assumirá com uma eventual vitória paterna.