Estelionato eleitoral que deu ao MDB a vitória em Goiânia se vira contra o partido, que foi ganancioso com os cargos da prefeitura e agora enfrenta o expurgo por Rogério Cruz
O poder transforma os homens. Não se passaram nem 80 dias desde que Rogério Cruz assumiu a prefeitura de Goiânia, naquela época, sob o impacto emocional da morte do prefeito eleito Maguito Vilela e ele, em menos de uma semana, colocou as garras de fora. Um expurgo foi iniciado e emedebistas da gema estão sendo colocados para fora do Paço Municipal, sem a menor cerimônia. Rogério Cruz, aquele que não foi eleito para se sentar onde está sentado, resolveu enfim assumir o cargo de titular número um do Paço Municipal e provar que é ele quem manda.
O MDB, conduzido pelo jovem imaturo que Daniel Vilela mais uma vez provou que é e não se corrige, está sendo expurgado da prefeitura. No janeiro passado que os tempos de pandemia passam a impressão de ter sido longínquo, o partido foi ganancioso e pegou tudo o que o poder municipal oferece política e administrativamente de bom, não deixando nem migalhas para ninguém, nem mesmo para o próprio Rogério Cruz – que, em um fato inédito na história de todos os governos, foi humilhado ao ficar até mesmo sem a sua cota pessoal no secretariado pessoal. Espertamente dócil e submisso então, ele fez como a sabedoria chinesa aconselha e aguardou pacientemente para dar o seu contragolpe.
Andrey Azeredo, o petulante primeiro-ministro do alto do Park Lozandes, foi a vítima preferencial pelo simbolismo emedebista que a sua figura carregava, como ponta de lança de Daniel Vilela, atuando 24 horas por dia na vigilância intensiva ao prefeito, misturando os papeis de carcereiro e espião. Nenhum outro secretário transmitiria o recado que a degola de Andrey passou, mas, por via das dúvidas, outro ícone emedebista, Agenor Mariano, da Secretaria de Planejamento Urbano e Habitação também entrou na mira, mesmo tendo sido supostamente blindado por Daniel Vilela. Tudo tem um quê de agressividade e deixa claro que entre o atual prefeito e o MDB de Daniel Vilela não existe mais qualquer aliança.
O erro dos emedebistas foi a voracidade, lá atrás. Quiseram pegar tudo o que havia de disponível e até mais, tanto que induziram Rogério Cruz, contra a sua vontade, a criar mais de três centenas de cargos comissionados com salários entre R$ 8 e 12 mil para distribuir a uma extensa e interminável lista de apaniguados, em uma das mais tristes demonstrações de cupidez pela folha de pagamentos que a classe política já deu em Goiás. Não deixaram nada para o prefeito e a sua trupe de pastores da Igreja Universal, do Republicanos e da Rede Record, que atuam de forma sincronizada em um plano de conquista de poder que fracassou no Rio de Janeiro com a prisão do prefeito Marcelo Crivella e no momento está literalmente transferido para Goiânia, com a realocação de quadros religiosos cariocas que agora serão instrumentalizados pelo Paço Municipal, a exemplo do novo secretário municipal de Governo, que vem da hierarquia do Republicanos e da IURD.
As peças do dominó montado pelo MDB e por Daniel Vilela na prefeitura começaram a cair com Andrey Azeredo e Marcelo Costa Ferreira, este da Educação, passando por Marcelo Araújo Teixeira (desde a gestão de Iris Rezende na pasta da Administração) e agora com o balança-mas-não-cai do emblemático Agenor Mariano, ainda devendo jogar no chão, nas próximas horas, os titulares de áreas estratégicas como a Comunicação, aqui configurando outro equívoco dos emedebistas na sua ânsia pela ocupação de espaços, já que sempre se soube que a Igreja Universal tem fartura de quadros qualificados para essa pasta na condição de dona da segunda maior rede de televisão do país e igualmente de Goiás. A Rede Record, portanto, é que deveria ter sido contemplada com a pasta na formação inicial do secretariado e não um preposto, embora muito preparado, de Daniel Vilela.
Não há novidades no movimento operado pelo prefeito Rogério Cruz, que parece longe de ter terminado. Novidade foi a vassalagem resignada dele ao entregar os dedos e os anéis ao MDB na montagem do secretariado, contrariando a lógica de uma vida dedicada à Igreja Universal, ao seu complexo de comunicação e do aprendizado de dois mandatos na Câmara de Vereadores. Ele apenas está se encontrando com a sua realidade e retomando o caminho que deveria ter sido o seu desde lá atrás, quando o destino – e o estelionato eleitoral comandado por Daniel Vilela – o premiou com o mandato de prefeito de uma das 27 capitais brasileiras e a oportunidade de tentar colocar em prática os ideais religiosos que sempre professou, continua e continuará seguindo.
A imprudência emedebista foi tamanha que começaram a pulular candidatos a deputado estadual e federal dentro dos gabinetes do Paço, cada qual sonhando aproveitar as vantagens das secretarias das quais haviam se apossado. Andrey Azeredo estava de olho na Assembleia. O sobrinho de Maguito, Leandro Vilela, já se apressava em se habilitar para a Câmara Federal. Ninguém consultou a opinião de Rogério Cruz, no colo de quem a despesa por essa festa seria jogada. Nem muito menos se perguntou como essas ambições se encaixariam no projeto político da trindade Republicanos-Igreja Universal-Rede Record, origem irrenunciável de Rogério Cruz.
O estelionato eleitoral do MDB e de Daniel Vilela criou o monstro que agora aterroriza a ambos. Pela coluna Giro, de O Popular, eternamente portavoz do emedebismo e do seu presidente estadual, eles ameaçam romper, para o que não têm nem a fibra nem a coragem necessária. Pode apostar, leitoras e leitores, o expurgo dos emedebistas vai continuar no Paço Municipal e tanto o partido quanto a sua maior liderança vão engolir a seco, agarrados aos cargos. Goiânia, que o MDB pensou que era sua, agora é do Reino de Deus.
Atualizada às 17:08 de 17/março/2021.