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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

05 abr

A montanha pariu um rato: candidatura de Mendanha, por uma aliança de nanicos sem tempo de televisão e, pior ainda, submetida às idiossincracias do complicado Braga, é caminho certo para o desastre

Nada deu certo para Gustavo Mendanha. Fora Deus, que segundo ele e a sua mulher Mayara, o escolheu para governar Goiás, pouca gente parece se alinhar com o autodeclarado “mito” de Aparecida. Há uma parte do eleitorado aparecidense também engajada. Lideranças e partidos de peso, ninguém e nenhum. Até os poucos deputados que o ex-prefeito conseguiu, por algum tempo, foram perdidos para a candidatura bolsonarista do Major Vitor Hugo.

No final das contas, a montanha pariu um rato. Não é à toa que os eventos de Mendanha são realizados em Aparecida, às custas do volumoso funcionariado comissionado da prefeitura, que segue servindo às suas ambições pessoais mesmo com a posse do vice Vilmar Mariano. Fora dos limites do município, ele, Mendanha, não existe. Ainda mais com a proposta de disputar o governo do Estado representando uma fragilizada frente de partidos nanicos – Patriota, DC, PTC e PMN. Anotem aí, leitoras e leitores: desses, só o Patriota é confiável para Mendanha. Os demais são negociáveis -e olha que há um interessado no pedaço, o Major Vitor Hugo, que vai acabar levando um, dois ou os três – e não vai demorar.

Com o Patriota, Mendanha pode contar. Jorcelino Braga, que carrega o partido em uma pasta debaixo do braço, é, como ele mesmo se define, um “homem de palavra”. Certo. Mas é também complicado. Complicadíssimo. Acha-se acima de tudo e de todos, com a autoestima potencializada pelas eleições de 2020, quando ganhou todas as campanhas para as quais foi contratado: Maguito Vilela, em Goiânia; Roberto Naves, em Anápolis: Paulo do Vale, em Rio Verde; Humberto Machado, em Jataí e mais algumas, inclusive a de Marden Jr., em Trindade, o mesmo Marden Jr. que, filiado ao Patriota, não acompanhará a sigla na aliança com Mendanha.

Basicamente, nessas campanhas, Braga usou o seu modelo pré-fabricado nos programas de TV: pessoas do povo fazem perguntas e levantam problemas, com o candidato apresentando respostas providenciais e inteligentes. Não viabilizou a campanha de Daniel Vilela a governador, em 2018, em que o marqueteiro usou sem sucesso a fórmula, até radicalizada com o candidato emedebista visitando eleitoras e eleitores em suas casas, pelo Estado afora, para mostrar identidade com o dia a dia das goianas e goianos. Nas duas campanhas de Vanderlan Cardoso, em 2010 e 2014, um esquema parecido foi aplicado. Por artificial, não gerou resultados nem para Daniel nem para Vanderlan. 

Poucos comunicólogos têm em Goiás o currículo de vitórias de Braga, mas com um significativo detalhe negativo: para o governo estadual, ele só venceu uma vez, com Alcides Rodrigues, em 2006. Por uma ironia do destino, ocupando o espaço da propaganda televisiva maciçamente com um jingle chiclete que apregoava o refrão: “Alcides e Marconi, Marconi e Alcides”, que conseguiu incorporar a Cidinho a imensa aprovação popular que Marconi tinha na época. Logo Marconi, cujo apoio seria agora a saída salvadora para dar o tempo de TV do PSDB para Mendanha garantir algum espaço para tentar vender o seu peixe, mas foi refugado pela imposição das bizarrices individuais de Braga, para quem o ex-governador tucano é um “inimigo” e não um adversário político – e há uma dose enorme de ressentimento nisso aí, dadas as derrotas acachapantes que Marconi impôs a um Braga que tentou se imiscuir sem credencial e preparo no palco maior da política estadual.

Mendanha teve que se submeter a essa realidade. Ou então teria que se filiar a um dos três supernanicos que também – por enquanto – o respaldam, os tais DC, PTC e PMN, o que provaria que o que está ruim sempre pode piorar. Que candidatura é essa em que o presidente do partido é maior do que tudo e impõe suas vontades, mesmo com prejuízos para a conquista do objetivo final, que é vencer a eleição? Não tem sentido. Ou tem, diante de um Mendanha pequeno, menor ainda que o Patriota e todas as suas inacreditáveis miudezas. Sim, porque Braga também rejeitou as filiações dos deputados Paulo Cezar Martins, Major Araújo e Cláudio Meirelles, alegando que prejudicariam as possibilidades de eleição dos candidatos à Assembleia supostamente novos do Patriota. Com isso, eles foram para o PL e para a base da candidatura do Major Vitor Hugo, deixando Mendanha sem chapa para ajudar na campanha. Mas, ao mesmo tempo, Braga aceitou os deputados Humberto Teófilo e Paulo Trabalho, postulantes à Câmara, claro, enxergando o papel de escada que esses dois pobres-coitados terão para a reeleição de Alcides Rodrigues.

A importância de Mendanha, em tudo isso, foi ignorada. E ele engoliu covardemente calado. Como se disse, o ex-prefeito está muito abaixo das idiossincrasias de Braga, que nunca se saiu bem como articulador, haja vistas ao final catastrófico do governo Alcides Rodrigues, do qual ele foi o primeiro-ministro – uma gestão que não deixou rastros da sua passagem pelo Palácio das Esmeraldas e pela (falta de) direção do Estado. As preliminares para um dos maiores ridículos eleitorais da história política de Goiás estão colocadas e Braga e Mendanha serão os tristes protagonistas.