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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

11 set

Eleição em Goiás enterra 2 “mitos”: 1) Mendanha não é nenhum “fenômeno” ou revelação de futuro para a política e 2) Braga passa longe de ser o mago do marketing eleitoral

Gustavo Mendanha acreditava ter se transformado em um “fenômeno” da política em Goiás depois de conquistar o segundo mandato de prefeito de Aparecida com um resultado superior a 90% dos votos válidos, em 2020. Foi esse triunfo que inflou a sua confiança e o fez se lançar à aventura da corrida pelo Palácio das Esmeraldas, apesar das pernas curtas, ou seja, da falta de preparo pessoal e de uma base social consistente para sustentar o seu nome. O desfecho já pode ser antecipado e está à vista de todos na sucessão de pesquisas – as críveis, como as do Serpes e do Ipec – comprovando que ele não decolou, ostentando apoio consistente somente no reduto que governou.

Por isso, os índices de Mendanha não cresceram. Estagnaram. Ele é um ilustre anônimo Estado afora. Por onde passa e fala, espanta eleitoras e eleitores ao insistir na tese da suposta boa gestão em Aparecida, o que, a propósito, não é verdade (houve recuo em todos os índices de desenvolvimento locais durante os seus mandatos). Infelizmente para ele, todos sabem distinguir: administrar uma cidade, mesmo a segunda maior, é diferente de cuidar de um Estado. Muitos candidatos a governador, antes, já tombaram investindo em currículos municipais.

Há quase um mês atrás, em um levantamento também produzido pelo Serpes, o Mendanha tinha 19,7%. Dissipou 0,5 décimos e reduziu-se para 19,2% na nova rodada, publicada nesta sexta, 9. O governador Ronaldo Caiado já havia disparado pouco mais de 10 pontos na pesquisa anterior, subiu de lá para cá mais 6 pontos e agora chegou a 53,9% – percentual suficiente para garantir a vitória no primeiro turno, daqui a 20 dias. É impressionante: desde o começo, na pré-campanha, e depois, mais recentemente, na campanha, o candidato do nanico Patriota não avançou, não seduziu, não atraiu, não agregou nada, da mesma forma que não arranjou partidos para se escorar nem lideranças consagradas para avalizar o seu projeto.

As duas eleições de Mendanha em Aparecida foram acidentais e não operações calculadas. Essa é a conclusão a que o seu pífio desempenho na atual disputa estadual induz. Ele se beneficiou do embalo da passagem bem-sucedida de Maguito Vilela pela prefeitura. Tanto que, no seu horário de rádio e televisão, apresenta obras de Maguito como suas. Disse isso do Hospital Municipal e do Centro de Especialidades Médicas. Não, ele não fez nem um nem outro. É mentira. Assim como não implantou programas sociais permanentes. E não asfaltou todos os bairros, promessa duplamente repetida, deixando inacabadas as cinco avenidas do Eixo Estruturante Leste-Oeste. Não finalizou nenhuma.

Em três semanas de palanque eletrônico, Mendanha só exibiu as duas obras que não construiu. Não enunciou um “a” sobre Aparecida. Teria obrigatoriamente que mentir, mas talvez tenha escolhido mentir menos, para diminuir o prejuízo para a sua fé pública. Não foi por orientação do seu marqueteiro Jorcelino Braga, o desmiolado presidente regional do Patriota onde parou. Braga não enxergaria. Como foi cego ao empurrar seu cliente para a beira do abismo ao proibir sua aproximação com o ex-governador Marconi Perillo, disposto a uma aliança salvadora, com a vantagem do precioso tempo de rádio e TV do PSDB e do seu poder de alavancagem como postulante ao Senado situado em primeiro lugar nas pesquisas.

Diante da necessidade de tomar decisões acertadas, na política, campo da racionalidade e do pensamento estratégico, Braga, como orientador de Mendanha, fez o contrário. Enfiou na estória uma rivalidade pessoal com Marconi nascida na antiguidade do governo Alcides Rodrigues. Vetou o tucano e privou o ex-prefeito de um esteio que, se não levaria ao sucesso a sua candidatura, anexaria incontestavelmente uma maior amplitude de ação e ofereceria uma muleta para potencializar a sua identificação entre o eleitorado – em especial nos municípios. Sem isso, Mendanha trancou-se no isolamento e virou pó de traque.

A esse cenário equivocado, soma-se a contribuição de Braga como marqueteiro. Aí, babau, viola. Críticos dizem que ele, nesse ramo, só venceu eleições já ganhas pelos seus fregueses. Nem tanto, porque há pelo menos um exemplo em que promoveu uma virada, caso de Anápolis, onde Antônio Gomide deveria ter faturado em 2020, porém acabou surpreendentemente sobrepujado pela reeleição de Roberto Naves. Essa foi de Braga. Outras, de fato, não há. Atuou como publicitário de Alcides Rodrigues em 2006, quando investiu no fenomenal prestígio de Marconi naquele momento e gastava todo o tempo dos programas rodando o jingle “Alcides e Marconi, Marconi e Alcides” (com a mesma voz que hoje canta o jingle de Mendanha). Depois perdeu duas com Vanderlan Cardoso e mais uma com Daniel Vilela. Em todas, de cabo a rabo, usando o seu velho artifício de colocar no ar vídeos em que eleitoras e eleitores fazem perguntas convenientes e o candidato responde, em um teatrinho pobre e artificial. Esse kit envelheceu.

Quem assistiu aos programas de Mendanha na atual temporada eleitoral já conferiu. A fórmula está lá, mais falsa do que nunca. As aparições do candidato seguem o modelo dos postulantes a deputado federal ou estadual, com um enquadramento lateral e o resto da tela ocupado por imagens e letreiros. O que Mendanha tinha de juventude e novidade, desapareceu. A camiseta por baixo da camisa aberta é um desastre. Ele se tornou uma pálida sombra de si mesmo. O autonomeado “mito” de Aparecida, o ídolo dos pés de barro, vai sair com a ajuda de Braga menor do que entrou nessas eleições. Se serve de consolo, Braga também terminará apequenado.