Eleição para governador entra na última semana com lições amargas para os candidatos da oposição, a mais incompetente de todas as eleições em Goiás desde a redemocratização

“E tudo era acabado agora, a esperança, o medo e a tristeza”.
Esses versos de Longfellow, poeta norte-americano, um anglófono mais cultuado e amado na Inglaterra do que seu país natal, estão na lápide de Alfredo Nasser, no Cemitério Santana. Foram extraídos de um artigo escrito pelo reverenciado “pai das oposições goianas” em tom profundamente melancólico e de despedida, sob o sintomático título de “Adeus à vida”, com rememórias sobre a sua longa e agitada trajetória desde a infância em Caiapônia até o Senado Federal e o Ministério da Justiça e mesmo, por um breve momento, como primeiro-ministro no regime parlamentarista decorrente da renúncia de Jânio Quadros. Nasser foi um caso raro de político atuante dotado de uma vocação literária impressionante, expressa na primorosa coletânea de artigos para jornais e discursos deixados como legado da sua elaborada intelectualidade (em um belo livro compilado pela jornalista Consuelo Nasser sob o título “O líder não morreu”).
A última semana da campanha eleitoral em Goiás, prestes a se iniciar, traz à lembrança a poesia de Longfellow quando se pensa na disputa pelo governo do Estado: “E tudo era acabado agora” resume o dramático fim das expectativas alimentadas pelos candidatos que se levantaram contra a reeleição do governador Ronaldo Caiado. Certo, a vida continuará para eles, mas não como sonharam e imaginaram. Experimentar o cálice da amargura e o copo de fel da derrota embrulha o estômago e deixa marcas. Onde foi que cada um errou? O que houve de equivocado na origem das candidaturas de Gustavo Mendanha, Major Vitor Hugo e Wolmir Amado? E, nas suas campanhas, em que e onde falharam? São muitas as perguntas. Igualmente, as respostas, apontando para um inacreditável acervo de irracionalidades, muitas infantis, e disparates.
Mas a explicação primordial é uma só: nenhum dos três é dotado do necessário estofo para se habilitar a um mandato tão elevado quanto o de governador. É uma humilhação para eles mais uma vez repetir as deficiências em cada um para preencher um cargo de tamanha importância. Foram e continuam pequenos e miúdos. O Palácio das Esmeraldas se situa acima do que são – e o eleitorado, em sua sabedoria como ente coletivo, nota e percebe tudo isso, ainda mais quando dispõe de um gigante como Caiado como parâmetro de comparação. Foi daí que nasceram as pesquisas tristemente revelando que não avançavam de uma para outra. É a sofrência sertaneja aplicada à política.
Alfredo Nasser teve um diferencial e tanto na sua história: sempre foi oposição e isso nos tempos duros do ludoviquismo, que durou décadas. Sabia como sê-lo e assim contribuir com Goiás mesmo fora do poder. Os oposicionistas de hoje não têm essa fibra, cevados nas diferentes instâncias governamentais. As campanhas de Mendanha, Vitor Hugo e Wolmir constituíram-se frouxas, desinteressantes, completamente incapazes de uma ideia, um fato novo, uma inovação. Oposição de araque, na verdade. Misturando-se os três, não se produz a metade de um bom candidato. Ou o milésimo de um Nasser. Terminam a campanha em dívida com as goianas e os goianos. Para eles, o “tudo era acabado agora” da última semana antes da data das urnas vai além de um mero ponto final e tem o sentido de uma aniquilação, em especial para o mais afoito – o ex-prefeito de Aparecida Gustavo Mendanha.
Mendanha conseguiu uma façanha em direção inversa. Era quem tinha mais futuro, mas a vaidade e a arrogância não permitiram a ele se enxergar. Candidatou-se a ao governo sem se nivelar à política estadual. Não logrou se impor e não foi reconhecido. Desde o início da campanha, encolheu nas já parcas intenções de votos iniciais. Não adquiriu interlocução com as forças vivas da sociedade. Mostrou ser um jovem da cabeça velha, convertido por oportunismo eleitoral – que, no final das contas, não lhe rendeu nada – ao pior do bolsonarismo e à sua receita de ódio às mulheres, golpismo, negacionismo científico e defesa das trevas da ignorância. Segundo suas próprias palavras, por convicção pessoal. O que torna essa escolha muito mais grave e danosa.
O ex-prefeito fica devendo um mea-culpa, se souber calçar as sandálias da humildade. Ele insinuava ter recebido sinais divinos de um chamamento para governar Goiás. Esqueceu-se de que Deus não faz política. Ou, se fizer, optou pelo que é melhor para o Estado, manifestando Seu desígnio pela voz do povo de acordo com todas as pesquisas. Essa concepção messiânica foi mais uma manifestação da sua parvoíce. Do seu autoengano. Pretendia uma redenção e encontrou a disgreta. A eleição está decidida e Mendanha perdeu, com sentença de retorno para a sua provinciana Aparecida. “E tudo era acabado agora”? Nem tudo. Fica a lição, se souber aprendê-la, o que é de se duvidar.