Rogério Cruz lança programa bilionário de obras, algumas nem tão necessárias, mas se esquece do dia a dia de Goiânia: lixo, buracos, inundações, merenda escolar – uma cidade limpa e organizada, enfim
O prefeito Rogério Cruz apresenta, nesta semana, o seu programa bilionário de obras – o Goiânia Adiante. No papel, é simplesmente espetacular: asfaltamento e recapeamento de ruas, além da construção de pontes, viadutos, escolas e unidades de saúde, entre outros. Bombasticamente, Cruz não economiza adjetivos e trata o Goiânia Adiante como o “maior programa de investimentos da história” da capital graças aos R$ 1,6 bilhão a ser aplicados, centavo por centavo já guardados nas contas bancárias da prefeitura.
Esperançosos, os áulicos do Paço Municipal acreditam piamente no efeito dessa agenda de massa asfáltica, aço e concreto para alavancar a reeleição de Cruz em 2024. Hoje, haveria dificuldades para faturar mais um mandato. Ele chegou ao pico do Park Lozandes como consequência de um trauma – a morte de Maguito Vilela. Meteu-se em seguidas confusões tanto políticas quanto administrativas. Diariamente, é vítima de uma, duas e, em uma certa edição, até cinco matérias negativas de O Popular, com direito a repercussão nos telejornais da TV Anhanguera. Não é fácil superar essa montanha de obstáculos.
O Goiânia Adiante é um plano complexo, maior até que o do último mandato de Iris Rezende, comprometido pela ausência de coordenação estratégica e pela falta de dinheiro. Ninguém comenta, depois que a eternidade santificou Iris, mas acabou legando uma crise financeira e duas dezenas de grandes obras de engenharia paralisadas pela cidade afora. Muitas seguem inconclusas até hoje, como o BRT Norte-Sul. A essas será anexado agora o novo pacotão da prefeitura, a ser detalhado nesta semana. Rogério Cruz vai partir da estaca zero, dependente de licitações intrincadas e labirínticas, em alguns casos consumindo mais tempo que a própria execução física. Um PACzinho que vai requerer um esforço de gestão do qual a instável equipe do prefeito não parece capaz.
É o que as goianienses e os goianienses querem e precisam? É óbvio que a prioridade para quem vive o dia a dia de uma capital é a manutenção de rotina: limpeza, ruas e avenidas lisinhas, ensino fundamental de qualidade acompanhado por merenda escolar substanciosa, iluminação pública impecável e, agora que as chuvas estão prestes a se intensificar, um escoamento das águas à altura de evitar as incômodas e perigosas inundações dos trechos mais sensíveis. E trânsito melhor. Tudo isso está em falta. A Comurg, principal prestadora dos serviços públicos que servem de perto a população, nunca foi tão politizada e ineficaz. Além de produtora de escândalos periódicos, transformou-se em uma aberração administrativa, cuja única finalidade neste ano foi levar para a Assembleia Legislativa o vereador Clécio Alves, atropelando até mesmo a própria primeira-dama Thelma Cruz, derrotada na última eleição.
Não que o Goiânia Adiante seja um erro. Aperfeiçoar a estrutura urbana é sempre positivo para qualquer metrópole – e a capital já é umazinha. Cuidar do cotidiano, no entanto, é fundamental. E também o que eleva a autoestima dos moradores das regiões centrais e dos bairros, que devem ser igualmente olhados naquilo que se vê todo dia, a toda hora, por toda parte. Uma crise no recolhimento do lixo liquidou o futuro do então prefeito Paulo Garcia, que acabou morrendo de desgosto. Enquanto obras são erigidas, perturbando a paciência de todos, como a perenização da reforma da Praça Cívica, não há por que negligenciar as obrigações de atenção básica às cidadãs e aos cidadãos. Até mesmo quanto ao embelezamento das praças, canteiros e jardins, que de há muito saiu do radar das atuais autoridades municipais.