Desindustrialização: como Goiás vai perder grandes empresas até 2033 e não serão poucas
Bem que o governador Ronaldo Caiado cansou de avisar, na época em que a reforma tributária tramitava no Congresso Nacional: Goiás, nos termos em que o projeto acabou aprovado, sairia prejudicado. Caiado focava na questão fiscal, ao reclamar da futura perda de autonomia na regulamentação e administração dos impostos estaduais. Mas, na verdade, o que vem aí é muito mais grave, muito mais. Simplesmente o encerramento das atividades em solo goiano das montadoras de veículos e da indústria farmacêutica, fatalmente destinadas a se transferir para São Paulo, sem falar em outras empresas de porte.
Economistas de credibilidade já cansaram de advertir: a implantação da reforma tributária, com o fim gradual dos incentivos fiscais entre 2029 e 2033, eliminará as vantagens para que empreendimentos que hoje turbinam o parque fabril de Estados como Goiás e do Nordeste continuem onde estão. Desmontar uma estrutura de produção aqui e remontar ali é coisa simples. Claro, “ali” quer dizer São Paulo, direção preferencial, em razão da melhor infraestrutura, da mão de obra qualificada e do maior mercado consumidor. Distribuidoras atacadistas também executarão esse movimento, abandonando suas instalações atuais em regiões economicamente periféricas rumo ao território paulista.
O presidente da Federação das Indústrias do Estado de Goiás André Rocha(foto) entrou em modo de alerta para essa situação, conforme revelado no seu discurso de posse há poucos dias. Antes dele, o seu antecessor Sandro Mabel, hoje prefeito de Goiânia, também já havia estrilado. O que pode vir por aí é uma desindustrialização capaz de abalar a economia goiana, com a debandada de potências como a Caoa-Hyundai de Anápolis e a Mitsubishi de Catalão, além das maiorais do polo farmacêutico de Anápolis e importantes firmas de logística para o varejo hospedadas em Aparecida. Igualmente, todas elas tendem a perder o interesse em atuar no Estado com a cessação dos benefícios vinculados ao não pagamento de ICMS |(que, aliás, vai desaparecer), substituído pelo IBS. E o pior é que, desde já, com a antecipação do que vai acontecer, haverá tempo suficiente para a procura de novas locações – São Paulo é prioridade – para as suas fábricas e centros de operações.
Em resumo, com a reforma tributária e a liquidação dos incentivos fiscais, empresas no momento atuando em lugares onde não estariam, não fosse por força desses privilégios, irão embora, transformando regiões inteiras do interior brasileiro em “Detroits”, uma referência à antiga capital da indústria automobilística dos Estados Unidos, considerada hoje uma cidade fantasma devido à sua decadência. O caso mais emblemático é o da Caoa-Hyundai, de Anápolis, que um economista definiu assim: “Uma montadora de veículos que está em Anápolis e importa tudo da China, tenho muitas dúvidas se ela permaneceria em Goiás porque seria mais eficiente em São Paulo sem os incentivos”. As montadoras no Nordeste também são candidatas a regressar.
Aparentemente, a reforma tributária é irrecorrível. Já se transformou em lei e, à primeira vista, não haveria o que fazer a não ser cumprir as novas regras. No entanto, engolir sem reação ou oposição seria uma irresponsabilidade. Quem sabe alternativas possam ser encontradas, em tese, em meio às suas disposições. É o futuro de Goiás que entrou em jogo. No mínimo, um debate público deveria se abrir. E já passa da hora.