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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

03 mar

A verdade, ainda que tardia: Marconi está na origem da articulação que levou Lissauer Vieira à presidência da Assembleia e por isso a sua influência no Poder, em vez de diminuir, fez foi aumentar

A verdade às vezes tarda, mas acaba aparecendo: o ex-governador Marconi Perillo está na origem da articulação que levou Lissauer Vieira à presidência da Assembleia, impondo uma derrota política histórica ao governador Ronaldo Caiado já que foi a primeira vez, em mais de 40 anos, que o Legislativo escolheu o seu comando sem nenhuma influência do Executivo, em Goiás.

 

Dono de um instinto político formidável, Marconi atuou à distância (estava em São Paulo), via telefone, desenvolvendo com deputados como Humberto Aidar, Talles Barreto e Cláudio Meirelles a manobra que transformou a onda criada pelos parlamentares que queriam “zerar” a Assembleia em um movimento de “independência” em relação ao Palácio das Esmeraldas. Ou seja: o que começou como um desejo de “limpar” a Assembleia, afastando o controle que o ex-governador tucano e seus aliados ex-presidentes da Casa , que ainda dominavam diretorias, contratos e centenas de cargos comissionados, terminou sob a bandeira da declaração de autonomia do Poder face a Caiado, na verdade um projeto de submissão do Poder aos interesses do marconismo em decadência em Goiás.

 

Uma manipulação e tanto, na qual caíram deputados experientes como Major Araújo e Iso Moreira (e que, por isso mesmo, estão sendo mimados pelo novo presidente com vantagens que outros parlamentares não estão recebendo, para evitar a criação de encrencas), com as facilidades adicionais que vieram dos seguidos erros cometidos pelo novo governador – que infantilmente chegou até a afrontar deputados em um debate sobre a situação de calamidade financeira do Estado e ficou, por incrível que possa parecer, 100% à margem do processo de definição da presidência do Legislativo.

 

Marconi percebeu primeiro o vácuo que estava se abrindo com a inviabilidade da eleição de Álvaro Guimarães, candidato de Caiado, e a fraqueza do seu adversário Dr. Antônio. Ele viu a importância que o MDB teria no processo e mandou emissários conversar com o presidente do diretório estadual do partido, Daniel Vilela, para apresentar a ideia de eleger um nome supostamente palatável para o Executivo, mas disfarçadamente compromissado com a oposição. Lissauer Vieira, nesse contexto, despontou naturalmente, depois de lançado a candidatura de Humberto Aidar apenas como artimanha diversionista.

 

A trama foi bem sucedida porque, em momento algum, apareceram as digitais do tucano-mor de Goiás no encadeamento das negociações de bastidores na Assembleia. E o que aconteceu? Com Lissauer Vieira na presidência, a Casa está mais do que nunca sob a supervisão do mesmo grupo político de sempre – prova maior foi a ostensiva nomeação de cinco diretores que vieram dos governos do PSDB – e está sendo aos poucos aparelhada para dar suporte ao grupo e permitir a sobrevivência dos seus principais quadros e interesses.