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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

15 ago

É precoce dizer que o governo Caiado beira um fiasco, mas também não se está longe disso, depois de frustrada a expectativa gerada pela espetacular vitória nas urnas. E não há a quem isso possa aproveitar

Em condições normais, um governante próximo de completar oito meses de mandato sem se afirmar como um administrador que sabe o que quer e, mais ainda, o que precisa ser feito para dar um rumo à sua gestão, já estaria a essa altura muito desgastado e totalmente superado, no cenário político, pelas lideranças que fazem oposição a ele. Mas, vejam bem, leitora e leitor: no início da frase anterior, foi dito “em condições normais”. Porque, no caso do governador Ronaldo Caiado, há uma anomalia séria: quem poderia assumir a oposição ao seu governo e se beneficiar da sua deterioração precoce, no caso o ex-governador Marconi Perillo, está no fundo do poço, sem a menor possibilidade de botar a cara para fora ou, no momento, sonhar em fazer isso um dia.

 

Mesmo entre caiadistas apaixonados, não há mais o entusiasmo que era observado logo após a espetacular vitória nas urnas de 2018. A esperança gerada foi a de um governo inovador, capaz de corrigir pelo menos os erros mais gritantes na condução do Estado e garantir às goianas e aos goianos os serviços públicos necessários, com honestidade e eficiência. Oito meses depois da posse do governador, não há mais nem sombra dessa expectativa. Sequer se pode falar que os níveis éticos e morais observados na condução da máquina pública, tão caros a Caiado durante toda a sua longa carreira parlamentar, passaram por algum upgrade. Nada disso. Já há casos de corrupção, como o da Codego, inteiramente originários da atual administração. Funcionários presos em gestões passadas, pela prática de irregularidades, foram readmitidos. E o pior de tudo: o governo segue como uma avantajada vaca leiteira, com o cabresto nas mãos do secretário de Governo e articulador oficial Ernesto Roller, em cujas tetas os políticos, com nomes agora trocados, continuam agarrados, com o beneplácito do governador que prometeu “desmamar” à força os aproveitadores dos recursos do contribuinte.

 

Só não é fiasco porque ainda estamos no ano um do mandato e, portanto, finalizando um período em que é normal que se conceda um crédito ao chefe do Executivo, qualquer que seja. Mas que há uma paralisia e uma sensação de desnorteamento pairando sobre Goiás, há. Sem ter sido atingido pelas bombas atômicas que explodiram no seu colo, Marconi estaria transformado hoje na principal referência política estadual, símbolo de tudo de bom que Caiado não é nem faz força para ser. Se a queda do tucano que mandou como um semideus durante os seus 20 anos de reinado tivesse se limitado à derrota eleitoral, mesmo massacrante como foi, ele já estaria de pé há muito tempo. O problema são os processos judiciais, a prisão, mesmo por 24 horas, as denúncias de envolvimento no recebimento de propinas e as estórias mal contadas sobre os seus últimos dias de poder e até de antes. Foi por isso que, quando ele estava detido na carceragem da Polícia Federal, no setor Bela Vista, em Goiânia, vídeos nas redes sociais mostraram cenas de comemoração e até de pessoas dançando alegremente.

 

Não se supera isso a toque de caixa, nem mesmo sendo sucedido por um governador ruim como Caiado. E, fora Marconi, a oposição limita-se a uma ou outra voz, como os deputados estaduais Talles Barreto e Leda Borges, ou o prefeito de Trindade Jânio Darrot, presidente estadual do PSDB, bom moço demais para encarnar o antagonismo ao governador, porém, de resto, os três ainda sem cacife para ocupar o vazio político que está se abrindo. De onde poderia vir alguma ajuda, como o PT, não sai nada. Em condições normais, não as que aí estão postas, Caiado já seria um zumbi – e, mesmo com as vantagens proporcionadas pelos seus adversários, aqui e ali há quem o veja assim.