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José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

31 jan

Apesar de serem um fenômeno natural, periódico e previsível desde que o mundo é mundo, chuvas pegaram Adib Elias com as calças nas mãos e levaram a destruição à Catalão

Ficou ruim, mas muito ruim, para o prefeito Adib Elias o que aconteceu em Catalão há poucos dias e apenas repete a rotina das fortes chuvas que caem na cidade entre o fim de um ano e o início de outro, por todo o sempre – o que deveria ter levado as autoridades municipais a adotar medidas de precaução, que, inclusive, foram recomendadas pelo Ministério Público, mas 100% ignoradas pela prefeitura, em uma omissão que resultou em prejuízos monumentais para a população e por pouco não levou a mortes (que, em anos anteriores, já ocorreram).

Adib recebeu todos os avisos possíveis. O primeiro, claro, decorre da tradição de tempestades que levam a inundações periódicas em Catalão e destroem a infraestrutura urbana da cidade – a propósito, péssima, com obras equivocadas como a canalização com piso e paredes de concreto do ribeirão Pirapitinga – o que, em vez de resolver, agravou a incidência de enchentes ao esparramar o excesso de águas por toda a cidade e não apenas ao longo do seu leito. Como não aprendeu com o erro, a prefeitura, no ano passado, artificializou o restante do Pirapitiga que passa pela cidade, criando uma monstruosidade, ou seja, um curso d’água que flui inteiramente por um estreito canal pavimentado. Em países europeus, um projeto absurdo como esse seria motivo para a deposição do prefeito.

Outra advertência veio de uma ação protocolada na Justiça pelo Ministério Público, que corretamente exigia da prefeitura a confecção de um plano municipal de drenagem urbana, além da implantação de uma fiscalização eficaz e efetiva das represas existentes dentro dos limites cidade. Em vez de obedecer, o que Adib fez? Deu-se ao trabalho de entrar com um recurso no Superior Tribunal de Justiça, para fugir da obrigação. O promotor Roni Alvacir Vargas, da Promotoria de Defesa do Meio Ambiente em Catalão, autor da ação, afirma que se a prefeitura tivesse atendido aos pedidos, os estragos causados durante a forte chuva da semana passada não teriam ocorrido. Catalão tem 14 grandes represas dentro da cidade, muitas em sequência, o que facilita eventuais acidentes e rompimentos. Pior: todas irregulares. É cegueira deliberada não enxergar esse potencial para desastre, como parece ser o caso, em especial em uma região que registro histórico de trombas d’água.

Mas não foi só. Adib ignorou ainda outro aviso: o precedente aberto com o estouro de uma represa em Pontalina, que o deveria ter levado a deflagrar um imediato monitoramento das barragens em posição de risco, em especial as urbanas. Não o fez, dormiu no ponto e agora se desdobra em justificativas esfarrapadas que não fazem jus à inteligência e capacidade administrativa que sempre demonstrou como chefe do Executivo catalano. Sua imagem de bom gestor, em ano eleitoral, em que depende da renovação do seu mandato para ter um futuro na política estadual, foi arrastada para o brejo. Afinal, como explicar, com Adib perto de 12 anos mandando em Catalão, uma prefeitura que não fez nada para prevenir nem muito menos adotou cuidados mínimos – e legalmente obrigatórios – para evitar ou ao menos diminuir os danos das pesadas chuvas que eternamente caem sobre a cidade?