Informações, análises e comentários do jornalista
José Luiz Bittencourt sobre política, cultura e economia

28 mar

Argumento de O Popular, de que rompimento de Caiado com Bolsonaro obedeceu a “cálculo político” e que “Caiado já sabia quem era Bolsonaro” não é só infantil, é desonesto também”

O Popular entrou em cruzada para defender a sua tese de que o reposicionamento do governadr Ronaldo Caiado em relação à sua aliança com o presidente Jair Bolsonaro obedeceu a um “cálculo político” e que, pior ainda, Caiado não teria razão porque “já sabia há tempos quem era Bolsonaro” – interpretação que revela a inocência dos jornalistas daquele que supostamente deveria ser o principal veículo de comunicação do Estado, mas não se comporta com a sensatez que está depositada sobre os ombros dos seus profissionais e parece não servir para nada, a não ser desinformar em tempos de emergência social e econômica.

Não houve “cálculo político” nenhum, leitora e leitor. Caiado esteve em uma videoconferência de governadores com o presidente, pela manhã, e nada ouviu sobre as sandices que, à noite, o chefe da Nação foi à televisão, em rede nacional, dizer. Ele, Caiado, ficou perplexo com a fala de Bolsonaro, que contrariou toda a sua formação científica como médico de elevada qualificação acadêmica e longa experiência. Mais ainda ao constatar que o capitão, sem a menor consideração com os governadores, tentou jogar no colo deles a responsabilidade pelas dificuldades óbvias que estão recaindo sobre o andamento das atividades econômicas.

Tudo isso não tem a ver com política, mas com ciência e bom senso. Mas é da maior importância no atual contexto, do país e do Estado. Envolve algo muito mais sério, que O Popular despreza: a defesa da sociedade e a proteção das goianas e dos goianos contra uma pandemia que pode cobrar um preço alto em vidas antes de ser debelada. O jornal outrora mais lido de Goiás hesita entre apoiar as medidas de contenção à circulação de pessoas ou defender a retomada das atividades. Não tem opinião sobre esse debate que é o mais importante do país, hoje. É omisso (todos os grandes jornais do país já se definiram a favor da quarentena). Nem O Popular nem Bolsonaro entenderam o xis da questão: se, com a movimentação de pessoas liberadas, a nova doença se espalhar, não haverá distinções entre jovens e idosos quando o sistema de saúde for sobrecarregado, como aconteceu na Itália, e não conseguir atender a demanda. Isso não envolve nenhum “cálculo político” e foi a única avaliação que orientou Caiado nas suas decisões quanto ao isolamento social e em relação ao presidente. Se houver alguma aritmética aí, o caso é de salvar ou não seres humanos, de todas as idades, já, e resolver depois os desafios da economia. É essa a única conta que o governador está fazendo porque, no final das contas, é a única que importa.

O outro argumento dos jornalistas de O Popular é que Caiado “já sabia há tempos quem era Bolsonaro”. Esse foi o título que eles puseram no podcast que distribuíram pelo email dos assinantes, claro reflexo do remorso que atingiu a sua equipe com as imbecilidades publicadas antes, quando tentaram depreciar as decisões de um governador que está se mostrando muito maior do que qualquer outro no país e não só pelas suas decisões institucionais, como também pela coragem pessoal demonstrada a cada dia. Ao vender a imagem de que Caiado está movido por interesses quanto ao seu futuro político, o resultado alcançado por O Popular, cuja equipe desdenha de todo e qualquer governante, menos Iris Rezende, é solapar a credibilidade das duras decisões adotadas em Goiás. É um jogo dissimulado. Porém, mesmo assim, não pode ser escondido, já que, no final das contas, tudo tem que ser colocado no papel. E aí a verdade é escancarada até para quem não sabe ler os pingos nos iis.