Marketing eleitoral por atacado: programas de TV de Maguito (Goiânia), Paulo do Vale (Rio Verde), Naves (Anápolis), Adib (Catalão) e Humberto Machado (Jataí) são idênticos na forma e no conteúdo
Em certos detalhes, até o slogan é o mesmo: assim como o candidato do MDB Maguito Vilela disputa a eleição “pra Goiânia seguir em frente”, o prefeito Paulo do Vale, do DEM, que busca a reeleição, quer “Rio Verde seguindo em frente”. Adib Elias, do Podemos, repete a cada fala no seu programa no horário gratuito da televisão que, garantindo mais um mandato, será possível “Catalão seguir em frente”. Na segunda-feira, 12 de outubro, dia da criança, todos os três mostraram cenas com crianças do começo ao fim, assim como Roberto Naves, do PP, em Anápolis, e Humberto Machado, do MDB, em Jataí. Além disso, os cinco navegam dentro da mesma estrutura: pessoas do povo, online, fazem perguntas, que eles respondem mais ou menos no mesmo tom e com os mesmos argumentos, adaptados para as cidades onde estão disputando a eleição municipal.
Tudo isso – e mais, podem acreditar, leitoras e leitores – introduz Goiás na era do marketing eleitoral por atacado, em que um profissional especializado atende a políticos de diferentes localidades e partidos, porém com uma proposta similar de comunicação. É a praia do ex-secretário da Fazenda Jorcelino Braga, dono da produtora Kanal Vídeo, hoje o orientador estratégico de campanhas mais requisitado em Goiás. No pleito atual, consta que ele foi contratado por nove candidatos, alguns, como Marden Jr., do Patriotas, em Trindade, ou Divino Lemes, do Podemos, em Senador Canedo, sem acesso a programas de televisão e limitados a mídias convencionais, como impressos, rádio e redes sociais.
O forte de Braga, contudo, é a TV. Ele nunca foi e continua sendo um marqueteiro que não se pode chamar de ousado, já que é adepto de fórmulas tradicionais para buscar convencer o eleitor a votar nos seus clientes. Seu padrão é exibir eleitoras e eleitores interagindo com os candidatos, principalmente mulheres. Em 2018, fez a campanha de Daniel Vilela para governador com cenas em que o candidato aparecia visitando casas e dialogando na sala de estar com famílias – esquema que, apesar do artificialismo, deu parcialmente certo ao ajudar Daniel a terminar em 2º lugar, deslocando o candidato da máquina tucana José Eliton para a 3ª posição. Neste ano, diante da recomendação sanitária para evitar contato e proximidade, Braga se adequou: seus candidatos continuam “trocando ideias” com a população, mas à distância, pelo celular ou pelo computador. Nada de “visitas” ou qualquer cara a cara.
Os críticos dizem que “o Braga só ganha eleição ganha”, alusão à escassez de grandes viradas no seu currículo e a habilidade para assinar contratos em que a outra parte geralmente dispõe de uma sólida situação eleitoral – casos, na atual temporada, do catalano Adib Elias e do rioverdense Paulo do Vale, ambos líderes nas pesquisas com grande margem de pontos. Mas há um exemplo que prova que ele também sabe trabalhar em condições adversas: em 2006, começou a vender a candidatura de Alcides Rodrigues, representando o Tempo Novo, com índices de 6 a 7% nas pesquisas, bem atrás de Maguito Vilela, na época do PMDB, que contava com quase 40%. Ainda assim, como se sabe, na última semana antes das urnas, Alcides passou à frente e derrotou o adversário. Provar que é também capaz de virar o jogo é o desafio que novamente está colocado para Braga, no momento, com as campanhas de Maguito, que patina ora em 2º ora em 3º lugar nas pesquisas, a depender do instituto, e de Roberto Naves, que caminha para entregar a prefeitura de Anápolis a Antônio Gomide logo no 1º turno.
Com as redes sociais facilitando a divulgação dos programas de televisão, notadamente o Instagram, fica fácil, em poucos minutos, assistir ao que já foi ao ar, até agora, para promover os cinco fregueses da Kanal Vídeo na eleição corrente. Todos os programas seguem uma sequência e um único modelo. Com exceção de Adib Elias, os demais começaram manuseando fotografias antigas e lembrando destaques da história pessoal e profissional de cada um. Pais e mães. Filhos. Vida em família. Escola. E um fechamento chavão: “O que eu quero para (nome da cidade) é o mesmo que eu quero para os meus filhos”. Só que, ainda que sem imagens do passado, Adib discorreu sobre os seus tempos de criança e os sonhos que, já então, tinha para Catalão. Afinal, a regra número um da cartilha de Braga, a de que o candidato deve se vender gente como a gente e estabelecer laços de intimidade com a plateia, não pode ser desobedecida.
Do mesmo jeito, os cinco festejaram o Dia da Criança, com profusão de pequenas e pequenos nos vídeos. Paulo do Vale foi mais sóbrio, apenas aproveitando a deixa para abordar suas propostas para a educação. No dia seguinte, novamente todos reproduziram o modelo de conversa, agora online, com a população. Não há variações. É o mesmo tanto para uns quanto para outros, com os trejeitos de cada qual usados para dar um toque pessoal para frases parecidas e manifestações das melhores boas intenções possíveis para a administração de cada cidade. E desde já se sabe que vai “funcionar” em Catalão e Rio Verde, onde Adib e Paulo do Vale vão ganhar, pode dar certo em Jataí, com o favoritismo de Humberto Machado, e dificilmente produzirá a virada necessária e difícil para Maguito, em Goiânia, e Naves, em Anápolis.